Tóxicos

 
Jorge Andréa
Inúmeras são as causas responsáveis pela viciação dos seres humanos, em face das drogas conhecidas como tóxicos.
Intervêm na casuística as condições psicossociais de toda natureza, os fatores econômicos os ecológicos e mesmo o grupo humano considerado como classe de protesto.
Todos aqueles que se encontram nas malhas do vício, escondem a maior parte dos sintomas, desencantos, intranquilidade, reações neuróticas e psicóticas, como se fora um iceberg mostrando apenas pequena porção. O viciado procura modificar sempre a aparência externa, com finalidade de não demonstrar suas sensações e aflições. Apesar da máscara da personalidade consegue esconder muito pouco.
O problema dos tóxicos é de tal ordem, que em 1971, nos Estados Unidos, 5 milhões de pessoas fumavam maconha, 300 mil utilizavam heroína e, pelo menos 50% dos universitários experimentaram uma vez algum tóxico, enquanto que 1968 o experimento não excedeu a 5%. Ainda em 1971, na Suécia, 5 milhões de pessoas drogavam-se por via venosa. No Brasil temos poucos dados, entretanto, pelas estatísticas e atendimentos psiquiátricos e sociais diversos, naquele mesmo ano de 1971, é de pensar-se que 300 mil estudantes experimentaram pelo menos uma vez algum tóxico. E nos dias de hoje que as estatísticas se ampliaram!?…
As condições da musica excitante, o fenômeno “materialismo”, os desencantos de toda ordem, as dificuldades que o meio naturalmente oferece e tantas outras posições de negatividade são fatores, quando não desencadeantes, ao menos coadjuvantes nos mecanismos da dependência. Diga-se entretanto, que o fator primordial nos processos de toxicofilia está ligado ao próprio indivíduo, à sua natureza psicológica em ligação direta com o passado espiritual.
Os sofrimentos que hoje colhemos são a sementeira do pretérito. É justa e precisa a conhecida frase: “A sementeira é livre, a colheita obrigatória”.
Acreditamos, também, que inúmeros viciados não trouxeram propriamente um problema cármico. São almas primitivas internadas, temporariamente, na carne e com poucas condições psicológicas na avaliação das responsabilidades. Com isso, desejam sonhos e caminhos sem lutas; esbarram na inconformação e nos desalentos dos possíveis roteiros fáceis na busca dos prazeres da vida.
Aqueles que se enredaram nas malhas do vício, iniciam-se por pequenos impulsos até mesmo por curiosidade como “ato de independência” ou “liberdade”. Impulso que a pouco e pouco se vai ampliando e como que convidando a personalidade imatura a uma tradução avessa e míope da “realização”. Nesta fase, muitos dizem que podem deixar a prática viciosa à hora à que desejarem por terem “inteligência” para isso; mas, na sua desestruturação psicológica caminham inelutavelmente para a dependência.
Nas garras da dependência transformam-se numa personalidade sem forças para qualquer atividade, por menor que seja, caindo em “fugas” para explicar a ausência de lutas. Outro ângulo, por informações destoantes, é a busca de sonhos, quando realmente só colhem pesadelos.
O viciado de tóxicos, mais do que se possa imaginar, tem habitualmente deslocamentos perispirituais e projeções ; ambos sem sentido, porquanto o tóxico atingindo principalmente a zona de acoplamento do perispírito com o corpo, determina distonias vibratórias que valem por verdadeiras lesões. Seria o fenômeno paranormal doentio.
Muitos viciados querem justificar sua dependência à realização de sonhos, tipo fenômenos mediúnicos (deslocamentos espirituais com vidências), que realmente existem como um processo de excitação à determinada fenomenologia paranormal. Porém o que de fato colhem é a violência que o tóxico determina no perispírito apresentando reações, embora parapsicológicas, integralmente patológicas. Com isso, as portas da obsessão, se já não estavam abertas, ficam como que escancaradas e o caminho da psicose assegurado.
O viciado é um doente mental, seja qual for a fase em que se encontre.
Almas frágeis pelas dívidas pretéritas ou pelas contingências de externa ignorância, são seduzidas pelas imitações, anúncios diversos, desespero, futuro duvidoso, dores morais, guerras, etc. Na maioria das vezes carregam consigo a constituição toxicófila, por dependência cármica, e deságuam nas neuroses e psicoses. Tudo por desconhecimento espiritual, da imortalidade, da reencarnação e da “Lei de causa e efeito”.
A atitude diante do viciado representa a pesquisa ajustada no sentido de esclarecimentos do campo pessoal, familiar e social, tentando penetrar os problemas afetivos, cuja avaliação são de fundamental importância nesta análise. Por outro lado, temos o encontro frontal com os problemas legais, cujas providências têm que ser analisadas na escolha do melhor caminho de amparo e tratamento.
De importância, sobretudo, é dar ao doente um conhecimento seguro do panorama espiritual, mostrando dentro de padrão ético as razões da imortalidade, das responsabilidades e das necessidades reencarnatórias. Mostrar como a “Lei de causa e efeito” pode assegurar o equilíbrio dinâmico da atmosfera psíquica que nos achamos envolvidos. Ministrar os passes magnéticos e os conhecimentos da Doutrina Espírita, por ser esta, presentemente a que está mais aparelhada na explicação dos problemas humanos, descortinando seus horizontes no despertamento das responsabilidades que o ser humano possui. Daí, então, inserindo o conhecimento do nosso destino, exaltar a vontade no sentido do indivíduo assenhorear-se de bases seguras e mais precisas em seu próprio psiquismo.
Tudo isto investe um trabalho grandioso, muitas vezes estafante, onde, principalmente os responsáveis (a família) tenham que ser mobilizados, acatando e protegendo o necessitado. Jamais esperar que o psicotrópico e um quarto de Casa de Saúde, ou certas informações deturpadas, tidas como espíritas, sejam o remédio definitivo. Muito menos relegar o necessitado à sua própria iniciativa (que é nenhuma, quase sempre). É claro que todos juntos – serviço social, a família e médico psiquiatra, principalmente os que conheçam espiritismo e lidem com os processos obsessivos espirituais – estejam de mãos dadas e interessados na problemática de um dos maiores flagelos da vida hodierna.
Por tudo, estamos a perceber que os toxicófilos, com os seus sintomas atingindo a zona psíquica e de modo mais preciso as zonas espirituais, representam condições infinitamente mais perigosas que as doenças somáticas degenerativas. Enquanto estas, limitando-se à zona corpórea ou física e cedendo ao Espírito o resultado construtivo das dores, aquelas, transcendem a etapa reencarnatória, pela desorganização do psiquismo de profundidade (zonas perispirituais), exigindo condições especiais e longo tempo no restabelecimento do equilíbrio. Com isso, inúmeras reencarnações corretivas serão necessárias, a fim de atenderem as condições normais de prosseguimento no caminho da Evolução.
 
Jorge Andréa
Livro: Psicologia Espírita – Volume I

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