“E tendo Jesus acabado este discurso, estava o povo admirado
de sua doutrina, porque Ele ensinava como quem tinha
autoridade, e não como os escribas e fariseus.
” (Mateus, 7:28 e
29.
)
Estas palavras do Evangelho mostram que o ensino do Cristo
havia impressionado fortemente os judeus que o foram ouvir na
encosta da montanha, nas proximidades do lago de Genesaré.
Isso porque os escribas e rabinos do Moisaísmo, sempre que
lhes falavam, quando não se limitavam a lembrá-los das
obrigações para com o sacerdócio ou a insinuar novas formas de
contribuição que lhes aumentassem os proventos como
serventuários do templo, eram muito minudentes na explanação
dos formalismos cerimoniais e das observâncias exteriores do
culto, mas nunca lhes expuseram verdades assim profundas, nem
lhes sensibilizaram os corações com tão expressivos apelos à
retidão de caráter, à brandura, à caridade, à misericórdia, ao
perdão, à tolerância, ao desapego dos bens terrenos etc.
Além de tocados pela beleza da forma e maravilhados ante a
excelsitude dos conceitos emitidos pelo Mestre, eles sentiam, pelo
elevadíssimo teor vibratório dele, que estavam em presença de
alguém com plena autoridade moral para lhes falar desse modo.
Sabe-se que a ideia do povo judeu, a respeito do Messias
anunciado pelos profetas, era de que “Ele” viria com poderes
extraordinários para sacudir o domínio estrangeiro que tanto os
humilhava e, mais que isso, entregar-lhes o cetro de um vasto
império, cuja capital, naturalmente, haveria de ser Jerusalém.
Pois não diziam as Escrituras Sagradas (Gênesis, 17:4 a 6) que
Deus estabelecera um pacto com Abraão, no sentido de o fazer
chefe das nações? E que de sua posteridade sairiam reis de muitas
gentes?
Após a morte desse Patriarca, não confirmara Deus, mais de
uma vez (Êxodo, 19:5; Deuteronômio, 7:6 etc.
), serem eles, os
judeus, o seu povo especial, a porção escolhida dentre todos os
povos da Terra?
Acoroçoados nessa ambiciosa expectativa pelos seus guias
religiosos, e sonhando com a glória futura, que esperavam ouvir
do Cristo aqueles pobres camponeses e pescadores senão a
reafirmação de estar próximo o dia em que a miséria, a opressão e
a vergonha que pesavam sobre Israel seriam substituídas por dias
de abastança, de hegemonia e de felicidade?
Como Ele nada lhes dissesse de molde a alimentar tais
esperanças, nem a lisonjear- lhes o arraigado orgulho racial; antes
houvesse lançado em seu discurso a “plataforma” (como se diria
hoje) de um reinado de Amor, de Justiça e de Fraternidade
Universal, é possível que, a princípio, o Cristo lhes tivesse
causado enorme decepção.
Mas, continuando a ouvi-lo, presos
que se achavam ao poder persuasivo de seu verbo, acabaram,
muitos, por aceitar-lhe a mensagem, isto é, a Doutrina, fazendo
dela, a partir de então, o roteiro seguro para a sua vivência.
Oxalá nós outros, nestes quase vinte séculos que nos separam
da pronunciação do Sermão da Montanha, tenhamos alcançado o
grau evolutivo que nos possibilite assimilar tão sublimes lições!
E que Deus nos ajude a segui-las, com a maior fidelidade, pois
sabemos, agora, que quem no-las transmitiu é, realmente, “o
Caminho, a Verdade e a Vida!”.