NÃO LANCEIS AOS PORCOS AS VOSSAS PÉROLAS – Rodolfo Calligaris – O Sermão da Montanha 5/5 (1)

“Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis aos porcos as

vossas pérolas, para que não suceda que as calquem aos pés e,

voltando-se contra vós, vos despedacem.
” (Mateus, 7:6.
)

É da sabedoria popular que “a riqueza só tem valor para quem

a sabe aproveitar”.

Uma boa ilustração disso é-nos oferecida pela fábula do galo

que, estando a catar em um monturo vermes ou migalhas que

comesse, deu com uma pedra preciosa.

Vendo-a, exclamou: Ah! se um lapidário te encontrasse! Como

haveria de regozijar-se com o achado! A mim, porém, de nada

vales.
Melhor me serviria um grão de milho ou algum bichinho.

E, afastando-se desdenhosamente, continuou à procura de algo

que lhe satisfizesse às necessidades do estômago.

O mesmo se pode dizer das coisas espirituais.

A utilização de nossas forças mentais e dons psíquicos, o

domínio das leis que regem a comunicabilidade com o Além etc.
,

são noções benéficas quando empregadas com critério, para fins

edificantes; colocadas, porém, ao alcance de pessoas ignorantes

ou inescrupulosas, podem ser desnaturadas, aviltadas,

transformando-se em instrumento para a prática do mal.

Da mesma sorte, certas verdades que sobre-excedem a ciência

comum, e ideias novas que vêm contrariar os costumes da época,

de início só podem ser assimiladas e saudadas com entusiasmo por

uns poucos; forcejar sua aceitação geral, principalmente quando

firam interesses ou infirmem privilégios, é expor-nos a violências,

senão mesmo ao extermínio.
A História que o diga!

Assim, ao recomendar-nos que não ofereçamos aos “cães” o

que é santo, nem lancemos aos “porcos” as nossas pérolas, o

Mestre referia-se, evidentemente, a determinados tipos de

homens, ainda muito atrasados intelectual e moralmente, aos quais

não convém sejam revelados conhecimentos superiores ao seu

grau evolutivo, para que não contraiam perante a Justiça Divina

maior soma de responsabilidade do que poderiam suportar, nem

venham a prejudicar o próximo com o mau uso deles.

Isso não quer dizer, entretanto, que desprezemos tais criaturas,

considerando-as indignas de nossa solicitude.

Tampouco significa que os problemas do espírito e as questões

transcendentes devam ser conhecidas exclusivamente pelos

iniciados e sacerdotes.
Em absoluto.

Essas palavras visam a ensinar-nos a proceder com tato e

prudência, aguardando a ocasião mais oportuna para que nossa

semeadura produza os resultados desejados, pois, como é notório,

todos assimilam facilmente aquilo que lhes interessa, enquanto

mal toleram o que não lhes excite a curiosidade ou não lhes traga

proveito imediato.

Jesus, conhecedor profundo que era da psicologia humana,

sabia disso, e daí a recomendação em tela, para que não

malbaratemos nossos esforços de catequese com quem se ressinta

das condições mínimas de receptividade ao trato das coisas santas.

Jamais, todavia, deixou de aproveitar qualquer ensejo para o

soerguimento dos caídos na degradação ou mesmo no crime,

desde que percebesse neles um desejo sincero (ainda que oculto)

de reabilitação moral própria.

Haja vista, entre outros, os episódios em que, com o fascínio de

seu verbo, despertou para uma nova vida Zaqueu, o publicano

corrupto, e Maria Madalena, a pecadora possessa de sete

demônios.

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