As Seis Questões: Um Guia Para Julgar Favoravelmente

O Talmud (Arahin 15b) nos conta que Lashón Hará (literalmente: ‘má língua’) mata três pessoas: aquele que fala, aquele que ouve e a pessoa sobre quem se está falando.

O que é Lashón Hará? Há três tipos básicos de fala difamatória: (1) Os fatos são verdadeiros, porém são relatados sem nenhum propósito positivo. Eis um exemplo de propósito positivo: “Tome cuidado quando pensar em fazer negócios com o George. Ele já foi preso três vezes por fraude e desfalque”. (2) Os fatos são falsos e a história é contada com o intuito de manchar a reputação de alguém. (3) Fofocas e calúnias: “Você ouviu o que a Marta disse sobre você?”

O que fazer se alguém começa a falar Lashón Hará perto de nós? Como pará-lo(a) sem arrumar uma briga ou ofendê-lo(a)?

Eu sempre guardo comigo uma pergunta ‘coringa’ para fazer quando alguém começa a fofocar, difamar ou dizer palavras de calúnia. Simplesmente pergunto: “Quem você acha que vai ganhar o campeonato estadual este ano?”

Funciona com perfeição. As pessoas me olham horrorizadas e dizem: “Do que você está falando? Agora é época do campeonato brasileiro!” Ou: “Que me importa? Detesto futebol”. E então a conversa continua numa direção completamente diferente.

Ultimamente acrescentei mais uma ótima pergunta. “Que atacante bateu duas faltas consecutivas?” A razão de ser uma grande pergunta é que absolutamente não faz diferença. É um fato secundário que talvez interesse a alguém que goste de curiosidades, mas também um feito prodigioso para qualquer um que saiba algo sobre futebol – e seguramente leva a conversa para outra direção.

Aquilo sobre o que a pessoa fala se inicia com os seus pensamentos e perspectivas. O seguinte trecho foi extraído do livro “Por Que Não ‘Saltar’ Para Uma Boa Conclusão?”, publicado pela Chofetz Chaim Heritage Foundation (www.chofetzchaimusa.org), que efetivamente educa as pessoas sobre as Leis da Fala:

As Seis Questões: Um Guia Para Julgar Favoravelmente

A Torá ensina que, toda vez que ouvirmos ou vivenciarmos o comportamento negativo de outra pessoa, precisamos julgá-la favoravelmente. Em termos simples, isto significa dar-lhe o benefício da dúvida. Mas como é possível seguir este conselho quando os fatos claramente apontam para a culpa de alguém?

Às vezes ‘saltamos’ para a conclusão errada porque os fatos são diferentes de como os interpretamos. E mesmo que os fatos sejam precisos, freqüentemente interpretamos mal a intenção por detrás deles. Quando abandonamos a suposição de que havia uma intenção negativa por trás das atitudes de alguém contra nós, automaticamente reduzimos bastante a raiva e a mágoa que sentimos.

Eis aqui seis possíveis modos de analisar uma situação e se chegar a uma boa conclusão:

1. Você tem certeza que o fato ocorreu? Algumas vezes a nossa percepção do que vemos e ouvimos está equivocada.

2. Você tem certeza que os detalhes estão corretos? Um pequeno detalhe pode alterar todo o cenário. Algo pode ter sido exagerado ou omitido, o que faria uma grande diferença.

3. Você sabe se a outra pessoa queria causar danos? Muitas vezes as conseqüências são imprevistas.

4. Você sabe sob que condições a pessoa estava agindo? Talvez estivesse agindo sob uma base equivocada, o que explicaria o seu comportamento.

5. Será que a atitude desta pessoa poderia ser o resultado de um inocente erro humano? Todos têm limitações. Talvez lhe faltasse experiência, esqueceu de alguma coisa, distraiu-se ou simplesmente não pensou com cuidado suficiente antes de agir.

6. Você sabe que eventos precederam a atitude negativa? Esta pessoa pode estar lidando com uma carga muito pesada de dor, frustração ou tensão. Seu comportamento pode ser uma resposta a uma situação específica, como uma doença ou perda financeira, ou pode ser um problema mais profundo e complexo, que está afetando toda a vida desta pessoa.

Embora a Torá peça de nós para julgar os outros com generosidade e compaixão, não nos é solicitado aceitar comportamentos abusivos. Abusos físicos, verbais ou emocionais devem ser tratados e corrigidos.

Há um livro fabuloso em inglês: Guard Your Tongue, escrito pelo Rabino Zelig Pliskin, que é muito agradável de ler, fácil de entender e traz montes de histórias para ilustrar as leis da fala correta. Se desejarmos crescer espiritualmente, um dos melhores caminhos é sermos cuidadosos com o que dizemos. O livro está disponível em http://is.gd/2auiH.

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