SÓ ENTRARÃO NO REINO DOS CÉUS… – Rodolfo Calligaris – O Sermão da Montanha

Nem todos os que dizem: Senhor! Senhor! Entrarão no Reino

dos Céus; apenas entrarão aqueles que fazem a vontade de meu

Pai, que está nos Céus.
Muitos me dirão naquele dia: Senhor,

Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu nome não

expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas

maravilhas? E Eu então lhes direi em voz muito inteligível: nunca

vos conheci; apartai-vos de mim, vós que obrais a iniquidade.


(Mateus, 7:21 a 23.
)

O texto em epígrafe, vazado em linguagem clara e precisa, não

deixa a menor dúvida que a entrada no Reino dos Céus é uma

questão de observância das Leis Divinas e não de filiação a esta

ou àquela organização eclesiástica, de nada valendo as cerimônias

ritualísticas, os exercícios religiosos, ou as confissões de fé que

não se façam acompanhar de boas obras.

Os que dizem: “crede, e sereis salvos”; ou: “crede, e não

precisareis guardar a lei”, coitados! — são cegos condutores de

cegos.

Jesus sempre condenou com veemência as práticas meramente

formalistas de religiosidade, e jamais acoroçoou a ideia de que

seja suficiente a aceitação deste ou daquele “credo” para que

alguém tenha assegurada sua entrada nas mansões celestiais.

É a obediência aos mandamentos que prova a sinceridade de

nossas convicções e a excelência da doutrina que aceitamos.

Quando essa doutrina é de molde a transformar-nos,

erradicando de nós as características do “homem velho”, referto

de imperfeições, vícios e mazelas, para substituí-las pelas do

“homem novo”, fazendo que em nossa vida se manifestem a

honestidade, a brandura, a tolerância e a alegria de fazer o bem,

então podemos saber que estamos trilhando o caminho certo, pois

“é pelos frutos que se conhece a qualidade da árvore”.

Serão dignos do nome de cristão, os que se limitam a pregar os

ensinamentos do Cristo (profetizar em seu nome), mas cujo

caráter não se modifica para melhor, e não se mostram nem mais

solícitos nem mais fraternos para com os outros? Não!

Os que, segundo os processos kardecistas ou umbandistas,

doutrinam Espíritos obsessores, afastando-os daqueles que lhes

sofriam o assédio, mas não se doutrinam a si mesmos,

continuando com as mesmas fraquezas morais e a mesma falta de

caridade no trato com seus semelhantes? Tampouco!

Os que fazem promessas, impondo-se penosas macerações, em

demonstrações prodigiosas de fanatismo religioso (que a ninguém

beneficiam), mas só cuidam da própria salvação, indiferentes à

miséria e ao sofrimento do próximo? Também não!

À semelhança dos fariseus, os quais o Mestre comparou a

sepulcros branqueados, formosos por fora, mas que por dentro

estão cheios de asquerosidade, esses tais têm piedade apenas nos

lábios, pois em seus corações o que há, realmente, é só frieza e

hipocrisia.

Batendo na mesma tecla, disse Jesus de outra feita:

“Todo aquele que me confessar diante dos homens, também Eu

o confessarei diante de meu Pai que está nos Céus; mas, ao que

me negar diante dos homens, Eu também o negarei diante de meu

Pai que está nos Céus”.
(Mateus, 10:32 e 33.
)

Portanto, chamar a Jesus Cristo de nosso Senhor ou nosso

Salvador, entoar-lhe hinos e louvores, será de todo inútil se lhe

não seguirmos os preceitos.

Sim, porque “confessar o Cristo diante dos homens” tem o

sentido de proceder de conformidade com sua doutrina; significa

devotar-se ao auxílio da Humanidade, sem exceção de espécie

nenhuma, amparando, ensinando e servindo sempre, tornando-se

um veículo da manifestação do Amor e da Verdade no mundo.

Enquanto formos movidos pelo egoísmo e pela vaidade,

vivendo tão somente para a exaltação do próprio “eu”; enquanto

nos mantivermos insensíveis à má sorte de nossos irmãos,

conquanto nos proclamemos seguidores do Cristo, estaremos

negando-o diante dos homens, pois “amando-nos uns aos outros”

é que nos daremos a conhecer como verdadeiros discípulos seus.

E como “o amor é o cumprimento da Lei”, só quando soubermos

amar é que faremos jus ao galardão celestial.

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