PELOS SEUS FRUTOS OS CONHECEREIS – Rodolfo Calligaris – O Sermão da Montanha

“Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós disfarçados

em ovelhas, mas por dentro são lobos vorazes.
Pelos seus frutos

os conhecereis.
Porventura os homens colhem uvas dos

espinheiros ou figos dos abrolhos? Assim, toda árvore boa dá

bons frutos, e a má árvore dá maus frutos.
Não pode a árvore boa

dar maus frutos, nem a árvore má dar bons frutos.
Toda árvore

que não dá bom fruto será cortada e metida no fogo.
Assim, pois,

pelos frutos deles os conhecereis.
” (Mateus, 7:15 a 20.
)

Que se deve entender por profeta?

Em sentido restrito, profeta é aquele que adivinha, prevê ou

prediz o futuro.

No Evangelho, entretanto, esse termo tem significação mais

extensa, aplicando-se a todos os enviados de Deus com a missão

de edificarem os homens nas coisas espirituais, mesmo que não

façam profecias.

Cada uma das centenas de religiões denominacionais em que

se fragmentou o primitivo Cristianismo, ao fazer a exegese do

texto citado, classifica como “falsos profetas” quantos esposem e

ensinem doutrinas diferentes da sua, suposta a única verdadeira e

a única com poderes de salvação.

É um erro, pois o Mestre nos diz claramente que a distinção

entre os autênticos e os falsos profetas deve fundamentar-se, não

propriamente naquilo que propaguem, mas na observância ou não

dos princípios que aconselhem.

Destarte, falsos profetas são os que, em toda e qualquer facção

religiosa, apenas se limitam a pregar boas normas de conduta, sem

exercitá-las no trato com seus irmãos; são os que invocam

constantemente o santo nome de Deus, com palavras melífluas,

mas na realidade são servis adoradores de Mamon; são os que

fingem ser mansos, humildes e caridosos, mas que, no íntimo, são

o reverso do que aparentam.

Quem esteja, efetivamente, a serviço de elevada missão, quem

seja mesmo um enviado de Deus, não precisará apregoá-lo para

ser acreditado como tal; dar-se-á a conhecer “pelos seus frutos”,

isto é, impor-se-á pela excelência das virtudes que exemplifique,

pelos atos de altruísmo que pratique.

Os espíritas, mais que quaisquer outros, têm sido apontados

como falsos profetas, e até mesmo anticristos, por rejeitarem

certos dogmas engendrados pela Teologia tradicional.

Aplique-se-lhes, porém, o método de aferição preconizado pelo

Mestre, e ver-se-á que, conquanto possa existir entre eles, como

de fato existem, alguns “lobos camuflados com pele de ovelha”,

sua influência na sociedade tem sido benéfica e salutar, não só

pela gigantesca obra assistencial que realizam em favor da

infância desvalida, da velhice desamparada, dos enfermos, enfim,

dos desgraçados de todos os matizes, como também pelo esforço

que empreendem no sentido do auto aperfeiçoamento, buscando,

cada qual, pela noção que tem de sua responsabilidade pessoal,

tornar-se um cidadão útil a si próprio, à família, à pátria e à

Humanidade.

Ora, “não podendo a árvore boa dar maus frutos, nem a árvore

má dar bons frutos”, se os frutos produzidos pelos espíritas são de

boa espécie, segue-se que eles não são demônios nem

endemoninhados, mas filhos de Deus, tão dignos de respeito e

consideração quanto os demais.

Portanto, ao invés de tacharmo-nos uns aos outros de falsos

profetas, por motivo de divergência religiosa, tratemos, todos, de

operar o bem, para não termos a mesma sorte das árvores estéreis

que, um dia, serão cortadas e lançadas ao fogo.

Se não dermos bons frutos, poderemos, ao se fechar o presente

ciclo evolutivo da Terra, ser banidos para um mundo inferior e,

ali, provarmos o fogo depurador das mais tristes e dolorosas

expiações.

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