O AMOR PATERNAL DE DEUS – Rodolfo Calligaris – O Sermão da Montanha

“Qual de vós porventura é o homem que, se seu filho lhe pedir

pão, lhe dará uma pedra? Ou se lhe pedir um peixe, lhe dará uma

serpente? Pois se vós outros, sendo maus, sabeis dar boas dádivas

a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celestial dará bens aos que

lhos pedirem?” (Mateus, 7:9 a 11.
)

Não se conhece na Terra amor maior que o dos pais pelos

filhos.

Sejam eles desobedientes, estroinas ou facínoras, tenham os

defeitos que tiverem, nem por isso seus progenitores os renegam

ou deixam de estimá-los.

Não raro, esses filhos abandonam o lar, para se entregarem a

toda sorte de aventuras, ou então cobrem a família de vergonha

com seus desatinos, mas, ainda assim, embora de alma opressa e

coração traumatizado pela dor, os pais não cessam de abençoá-los

nem se cansam de auxiliá-los, por todos os meios ao seu alcance,

esperançosos de que, mais dia menos dia, tomem juízo, emendemse

e retornem ao bom caminho.

Malgrado eles próprios estejam longe de serem modelos de

virtude e de bondade, conquanto se ressintam também de

clamorosas falhas de caráter, isso não obsta a que façam todos os

sacrifícios imagináveis para o bem daqueles a quem deram o ser,

tão grande é a força e tão maravilhosas são as faculdades do amor

paternal.

Nenhum homem — di-lo Jesus — seria capaz de trair a

confiança que sua condição de pai inspira ao filho, e, pois, quando

este lhe peça um pão ou um peixe com que saciar a fome, de forma

alguma irá dar-lhe, em substituição, uma pedra ou uma serpente.

Isto seria uma aberração dos sentimentos que, por natureza, se

encontram até nos reprodutores infra-humanos.

Pois bem: se nós, homens, com todas as nossas imperfeições,

sabemos dar boas dádivas aos nossos filhos, se fazemos depender

a nossa alegria de suas alegrias, e a nossa felicidade da felicidade

deles, que dizer de Deus, nosso Pai celestial? Quanto maior não

será a sua solicitude, o seu desvelo, a sua ternura para conosco?

Não se infira daí, entretanto, que, por muito nos amar, Deus

deve satisfazer a todos os nossos caprichos e vontades, como o

fazem certos pais insensatos que, a pretexto de não criar

complexos em seus filhos, entendem ser de boa praxe deixarem

que deem livre expansão aos seus instintos e más tendências

inatas, quando seu dever fora precisamente o contrário: dominar

esses instintos, sofrear essas más tendências, e, com pulso firme,

imprimir-lhes uma nova direção nesta nova oportunidade que a

reencarnação lhes propicia.

Absolutamente não! Porque muito nos ama, agindo

inteligentemente, como nenhum pai humano saberia fazê-lo, Deus

só nos concede aquilo que seja útil ao aprimoramento de nosso

espírito, à nossa evolução, recusando-nos tudo quanto possa

acarretar sérios danos a nós e a outrem.

Às vezes, para que ganhemos experiência, cede às nossas

rogativas e nos enseja a posse de algo para cuja utilização não

estamos ainda suficientemente preparados.
Os dissabores e

decepções que, em tais circunstâncias, viermos a sofrer, ser-nosão

proveitosos, pois farão que nos tornemos mais ponderados.

Via de regra, porém, o Pai celestial deixa de ouvir as nossas

súplicas quando aquilo que pedimos, em vez de ser um benefício,

venha a constituir-se uma pedra de tropeço em nosso destino, para

dar-nos coisas mui diversas, geralmente recebidas a contragosto,

quais sejam: doenças, pobreza, dificuldades etc.
, por ser isso,

exatamente, o que mais convém aos nossos espíritos insipientes,

para que progridam e se ponham em condições de, no futuro,

conhecer outros gozos mais puros e mais duradouros que não os

grosseiros e efêmeros prazeres da matéria.

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