O PERDÃO – Rodolfo Calligaris – O Sermão da Montanha

“Se perdoardes aos homens as faltas que cometerem contra

vós, também vosso Pai celestial vos perdoará os pecados, mas se

não perdoardes aos homens quanto vos tenham ofendido,

tampouco vosso Pai celestial vos perdoará os pecados.
” (Mateus,

6:14 e 15.
)

Na época em que o Mestre andou pela Terra espargindo as

luzes do Evangelho, essa lição deve ter causado estranheza a

muitos, habituados que estavam à prática do “olho por olho e

dente por dente”.
Não admira, pois ainda hoje há os que preferem

nortear suas ações pelos velhos códigos de Moisés, achando que

os preceitos de brandura e mansuetude, recomendados pelo Cristo,

servem apenas para fazer covardes e vencidos.

Em verdade, porém, enquanto não aprendermos a perdoar

reciprocamente as faltas que cometemos uns contra os outros, a

dor e o sofrimento não serão banidos deste planeta.

Por não sermos capazes de perdoar, as prisões regurgitam de

infelizes, os hospitais mantêm-se repletos, inúmeras famílias

desarmonizam-se e dividem-se, e os tribunais permanecem

pejados de processos e querelas de todas as naturezas.

Ódios, rancores e desejos de represália lançam ondas mentais

inferiores, maléficas, à atmosfera que nos envolve, tornando-a

escura, pesada, tensa, e, mergulhados em tal ambiente, homens e

nações vivem nervosos, agitados e irritadiços, em constantes

atritos ou conflitos domésticos, sociais e internacionais.

No texto em epígrafe, o Mestre faz-nos sentir que, de um modo

geral, todos temos dívidas para com Deus, o qual, em sua

misericórdia, está sempre disposto a no-las perdoar, desde que

procedamos da mesma forma para com nossos irmãos.

Tal qual o mau servo da Parábola do credor incompassivo

(Mateus, 18:23 a 35), porém, queremos que Deus perdoe a

multidão de nossos pecados, mas negamo-nos a desculpar a menor

falta que outrem cometa contra nós.

Assim agindo, lavramos nossa própria condenação, pois nossa

intolerância, nossa incapacidade de suportar as fraquezas e os

erros alheios, quando nos sentimos prejudicados, têm como efeito

a invalidação de nossas súplicas de perdão ao Criador, porquanto

é da Lei que, para RECEBER, é preciso primeiramente DAR.

Portanto, se não cobrimos com o manto do perdão as faltas

cometidas contra nós, nossas infrações às Leis Divinas também

permanecerão descobertas na presença de Deus.

Esse perdão, todavia, tem de ser sincero, e não apenas de lábios;

deve compreender o esquecimento completo e absoluto das

ofensas.
Deus não se satisfaz com aparências nem com

simulacros, sabe o que vai no íntimo de cada coração, e só levará

em conta o indulto verdadeiro.

Há os que dizem, em se referindo a seus ofensores: “Perdoolhes,

mas não esqueço o mal que me fizeram”.
Ou então: “Perdoolhes,

mas não me reconciliarei com eles”.
Ou ainda: “Perdoo-lhes,

mas nunca mais quero tornar a vê-los em minha vida”.

Outros afirmam, também, haver perdoado a seus desafetos,

mas, se acontece serem eles atingidos por alguma infelicidade,

alegram-se intimamente com isso, e comentam ou pensam: “Bem

feito! Receberam o que mereciam”.

Esses tais terão perdoado, realmente? Não, e Deus tampouco

lhes perdoará as culpas.
[1]

[1]Lede as belíssimas mensagens sobre o perdão das ofensas, insertas no capítulo X de O

Evangelho segundo o Espiritismo.

Toda e qualquer manifestação de mágoa ou ressentimento

indica que subsiste no espírito do ofendido a lembrança daquilo

que ele diz ou imagina haver perdoado; prova que a brasa da

aversão não está totalmente extinta, mas apenas recoberta por uma

camada de cinza, podendo ser reavivada ao sopro de um novo

incidente qualquer.

Aprendamos, pois, com o Cristo, a ser mansos e ternos de

coração.

Aconteça-nos o que acontecer, não cedamos, nunca, a

pensamentos de ódio e de vingança; isto poria em ação forças

destrutivas que, mais cedo ou mais tarde, reagiriam contra nós

mesmos.

Certamente, os agravos que nos façam não ficarão impunes,

mas deixemos a cargo da Providência Divina a justa retribuição.

Eis, para finalizar, mais uma recomendação do Novo

Testamento:

“Não vos vingueis a vós mesmos.
.
.
Eu recompensarei, diz o

Senhor.
Pelo contrário, se o vosso inimigo tiver fome, dai-lhe de

comer; se tiver sede, dai-lhe de beber.
.
.
Não vos deixeis vencer do

mal, mas vencei o mal com o bem”.
(Romanos, 12:19 a 21.
)

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