SEDE PERFEITOS… – Rodolfo Calligaris – O Sermão da Montanha

“Sede perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celestial”,

recomendou-nos Jesus.
(Mateus, 5:48.
)

A exemplo das crianças, porém, que só dão valor aos seus

brinquedos e levam a vida entre folguedos e sonhos pueris, sem se

aperceberem das sérias responsabilidades e dos graves problemas

que os adultos devem enfrentar e resolver, grande parte da

Humanidade também se comporta, à frente dos objetivos da vida

neste plano evolutivo, com uma inconsciência e uma leviandade

simplesmente deploráveis.

Fazendo das riquezas o alvo supremo de suas atividades,

porque são elas que lhe abrem as portas do mundanismo e lhe

propiciam toda a sorte de comprazimentos, engolfa-se numa

desgraçada apatia moral, numa abjeta materialidade, sem

idealismo, sem nobreza, como se a existência terrena não tivesse

uma finalidade útil e após ela nada mais subsistisse.

Em seu desvario, cada qual cuida apenas de salvar as

aparências, de evitar escândalo, procurando ocultar ou disfarçar

habilmente seus erros e defeitos, para ser tido por pessoa de bem,

para que a sociedade forme dele um bom conceito, e, satisfeito

com isso, assim atravessa toda a existência, mascarado,

aparentando o que não é.

Este mundo, todavia, não é estância de descanso, de “dolce far

niente”, nem lugar de divertimentos inúteis, mas sim oficina de

trabalho, de estudo e de realizações, onde nos cumpre burilar

nossas almas.
Quando, pois, finda nossa romagem terrena,

voltamos à pátria da verdade, é com enorme tristeza que

lamentamos o tempo perdido e não menor desilusão que nos

contemplamos tal qual somos na realidade, constatando,

horrorizados, o quanto fomos hipócritas para com nós mesmos.

Sim, post mortem, é-nos dado observar, com as emoções e

sentimentos correspondentes, cada incidente de nossa vida

passada, em que nossa preguiça, nossas mentiras, nossos vícios,

paixões e desejos grosseiros retratam-se com absoluta fidelidade,

em que todas as nossas fraquezas de caráter e todas as nossas más

ações voltam a ser vividas de novo.
Então, para vergonha nossa,

verificamos não ter avançado espiritualmente um passo sequer,

tornando-se necessárias novas reencarnações de provas e de

expiações, até que realizemos o aprendizado relativo a este

mundo, condição indispensável a que passemos a outro, superior

e mais feliz.

Contribuem de forma ponderável para essa estagnação

espiritual da Humanidade certos princípios religiosos por ela

aceitos de longa data e sob cuja influência foi modelado o estilo

de vida que aí está.

É evidente ao observador mais superficial que, na juventude e

na maturidade, a coletividade humana pouco se preocupa com

religião e até zomba daqueles que se mostram escrupulosos no

cumprimento de seus deveres.

A razão disso está na crença nela inculcada de que

determinados sacramentos são de tal modo eficazes, possuem tão

extraordinários poderes que, mesmo as criaturas mais corruptas e

perversas, em os recebendo, ficam livres de seus pecados e

tornam-se instantaneamente puras, imaculadas e em condições de

ingressar imediatamente no Reino dos Céus.

Ora, isso é uma pechincha.
E, como ninguém gosta de passar

por tolo, tratam todos de “gozar a vida”, como dizem, deixando os

problemas da alma para depois, para quando ficarem velhinhos.
.
.

Em que pese, porém, a “boa-fé” (?) dos que assim acreditam, é

totalmente inútil supor seja possível alcançar o Céu de mão

beijada, quando não se fez outra coisa senão agir em

contraposição às Leis de Deus.
Pretender isso é o mesmo que

desejar auferir juros de um capital que se não depositou.

As Leis Divinas são sábias, justas, inderrogáveis, e não há nada

nem ninguém que as possa burlar ou anular os seus efeitos.

O Reino de Deus, ou o Reino do Céu, está dentro de nós

mesmos, é um estado de felicidade proporcional ao grau de

perfeição adquirida, e não há outro meio de consegui-lo senão

praticando o bem, porque só o altruísmo purifica, melhora e

aperfeiçoa as almas.

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