O AMOR AOS INIMIGOS – Rodolfo Calligaris – O Sermão da Montanha

“Tendes ouvido o que foi dito: amarás o teu próximo, e

aborrecerás teu inimigo.
Mas Eu vos digo: Amai vossos inimigos,

fazei bem aos que vos têm ódio e orai pelos que vos perseguem e

caluniam, para serdes filhos de vosso Pai, que está nos Céus, o

qual faz nascer o seu Sol sobre bons e maus, e vir chuva sobre

justos e injustos.
Porque, se vós amais apenas os que vos amam,

que recompensa haveis de ter? Não fazem os publicanos também

o mesmo? E se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis

nisso de especial? Não fazem também assim os gentios?”

(Mateus, 5:43 a 47.
)

Essas máximas de Jesus têm sido interpretadas por uns como

rematada estultícia e por outros como uma norma ética sublime

demais para que possa ser praticada pelos homens.

De fato, se já nos custa tanto amar os nossos amigos, se é com

sacrifício que renunciamos a alguma satisfação ou vantagem

pessoal em favor deles, como amar os inimigos e onde encontrar

forças para retribuir o mal pelo bem, orando pelos que nos

perseguem e caluniam?

Para muitos, perdoar aos inimigos fora uma fraqueza ou mesmo

covardia indigna de si.
O desejo de vingança é como um bálsamo

aos seus sentimentos ofendidos, e, quando não conseguem realizálo,

guardam um ressentimento que lhes perturba a existência toda.

O máximo que outros concedem aos seus inimigos, aos quais

“não querem ver mais, nem pintados de ouro”, é o esquecimento

dos agravos recebidos.
Quase sempre, porém, esse

“esquecimento” é apenas aparente, pois, ao saberem-nos vítimas

de qualquer infelicidade, gozam com isso e até comentam: “Bem

feito! Receberam o que mereciam”.

Assim, aquelas recomendações do Mestre parecem realmente

absurdas e inexequíveis; no entanto, encerram profundíssima

ciência e constituem-se a mais alta filosofia prática da vida.

Como se sabe, e aí estão os psicólogos, psiquiatras e

psicoterapeutas para confirma-lo, a cólera, a malquerença, o ódio,

o rancor e os pensamentos de vingança são forças negativas que

destroçam o equilíbrio mental, espiritual e até mesmo físico de

quem as alimenta, mandando para o cemitério, diariamente,

milhares de pessoas, fornecendo grande percentagem de clientes

para manicômios, hospitais de doenças nervosas etc.
, e

transformando inúmeros lares em verdadeiros infernos.

Quem alimenta ódio contra os inimigos e procura pagar-lhes

mal com mal, inflige a si mesmo, com essa atitude, danos sempre

maiores do que lhes pode causar.

À semelhança da bola de borracha, que, atirada violentamente

contra um obstáculo qualquer, volta sobre aquele que a atirou, o

ódio, sendo também um processo essencialmente reflexivo,

sempre reflui contra o odiento.
Com a diferença que, no caso da

bola de borracha, a intensidade do retorno é sempre igual ao

impacto, ao passo que a força do ódio, ao atingir a pessoa visada,

ferindo-a ou mesmo matando-lhe o corpo físico, repercute no

odiento de forma ainda mais desastrosa.
Destrói-lhe a integridade

moral, tornando-o passível de terríveis obsessões, e isso sem

prejuízo da reparação que lhe será exigida pelas Leis do Carma,

as quais lhe imporão, nesta ou em futuras existências, sofrimentos

equivalentes aos que haja provocado.

Embora a muitos custe crer, as enfermidades de mau caráter

que tanto nos martirizam, fazendo-nos conhecer dores

lancinantes, angústias e aflições, são decorrentes de crimes

perpetrados no passado contra o nosso próximo, a quem não

soubemos amar ou não quisemos perdoar; são amargas

consequências de nossa falta de vigilância, de nossa rendição às

sugestões do ódio arrasador.

Tratemos, pois, de aprender essa preciosa lição do sábio

Mestre, esforçando-nos por ver, naqueles que agem mal para

conosco, não “inimigos” aos quais devemos esmagar ou eliminar,

mas sim infelizes analfabetos espirituais que ainda “não sabem o

que fazem” e, por isso mesmo, mais se recomendam à nossa

piedade e às nossas orações.

A grande vantagem de não devolvermos as pedras que nos

sejam atiradas pelos nossos desafetos está em que os

despojaremos de suas armas, frustrando-lhes novos ataques, além

de granjearmos a simpatia das criaturas de bem e atrairmos, para

nós e a nossa casa, bênçãos a mancheias.

Se, além de não revidarmos os que nos malqueiram e nos

ofendam, formos capazes de tratá-los fraternalmente, procurando

conquistá-los com bondade, de sorte que se tornem nossos

amigos, então.
.
.
agora e aqui mesmo, teremos ganho “o Reino dos

Céus”, porque a paz e a alegria permanecerão para sempre em

nossos corações!

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