DÁ A QUEM TE PEDE – Rodolfo Calligaris – O Sermão da Montanha 5/5 (1)

O oitavo mandamento prescreve: “não furtarás”.

Proíbe, assim, que nos apoderemos de coisa alheia sem

consentimento do dono dela.
Incrimina, igualmente, todo e

qualquer processo fraudulento, como as falsificações, as trapaças,

as sonegações, os lucros exorbitantes, a falta de exatidão em pesos

e medidas etc.
, de que possamos valer-nos para subtrair, em nosso

proveito, aquilo que é de outrem.

Jesus, aprimorando essa regra de conduta, acrescenta: “Dá a

quem te pede e não voltes as costas ao que deseja que lhe

emprestes”.
(Mateus, 5:42.
)

Em Lucas (6:30, 34 e 35), o ensinamento é ainda mais

expressivo: “Dai a todo o que vos pedir, e ao que tomar o que é

vosso, não lhe torneis a pedir.
Se emprestardes àqueles de quem

esperais receber, que merecimento tereis? Até os pecadores

emprestam uns aos outros, para que se lhes faça outro tanto.

Emprestai, sem esperardes nada: grande será a vossa

recompensa e sereis filhos do Altíssimo, que faz bem aos mesmos

que lhe são ingratos e maus”.

Com essas palavras, o Mestre deixou claro que, para sermos

cristãos autênticos, é insuficiente não cometermos furtos nem

defraudarmos o nosso próximo.
Temos de deixar de ser avarentos

e egoístas, servindo com boa vontade aos que nos batam à porta,

premidos por uma necessidade qualquer, sem daí esperarmos

nenhuma vantagem ou retribuição.

Não se trata de dar indiscriminadamente a quantos apelem para

a nossa caridade.
Muitos existem que esmolam por vadiagem e

sem-vergonhice.
A esses, nossas dádivas farão mais mal do que

bem, porquanto irão contribuir para que se mantenham na

ociosidade, quando bom seria que se vissem obrigados a trabalhar,

não só para que se aliviassem os encargos da sociedade, como

principalmente para que eles, os profissionais da mendicância,

adquirissem o necessário sentimento de dignidade pessoal.

Essa cautela, todavia, precisa ter limites; não deve traduzir-se

em negativas sistemáticas, nem em devassas na vida alheia.

Em caso de dúvida quanto à veracidade dos que alegam estar

em situação difícil, cedamos ao impulso do coração, e ajudemos

como e quanto pudermos.

É melhor errar, beneficiando a quem não merecia, do que errar,

deixando de acudir a um verdadeiro necessitado.

Na primeira hipótese, a responsabilidade perante Deus é de

quem nos ilaqueou a boa-fé; na segunda, é nossa.

Outrossim, guardemo-nos de escorchar os que de nós se

socorram, exigindo-lhes juros que não possam pagar senão

diminuindo o pão à mesa.
Abstenhamo-nos, também, de qualquer

violência contra os que não possam restituir-nos o que lhes

houvermos emprestado.

Se assim agirmos, sendo benignos com o próximo,

mereceremos ser chamados filhos do Altíssimo e grande será o

nosso galardão no Reino dos Céus.

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