Livro Céu e o Inferno – Primeiras Palavras – Allan Kardec

PRIMEIRAS PALAVRAS

As palavras Céus e Inferno são originárias da língua hebraica e possuem registro desde os primórdios dos tempos bíblicos.

A palavra CÉUS – shamaim (cy ) – em hebraico – só existe no plural e significa um teto luminoso que retém ou represa as águas de cima.
Deus chama o firmamento, que é raquia (gy ) em hebraico,

de Céus, significando ainda as águas suspensas no ar que cairiam em forma de chuvas.
(Gênesis, 1:8)

O Inferno ou Sheol (l ) em hebraico, significa tumba, cova, sepultura, local dos mortos, região inferior.
Inicialmente esse conceito era tomado ao pé da letra, passando na sequência a significar um lugar de sofrimento por onde todos passavam.
(I Samuel, 28:15)

Os gregos chamavam os Céus de URANOS ( ranoj) ou COILOS (coiloj) ainda com os significados de abóbada celeste, oco, morada dos deuses, côncavo e ar.
O Inferno grego era conhecido como HADES (Adhj), morada dos mortos, e também significava a própria morte.

Nos livros de Moisés ou Pentateuco, os Céus não passam de uma região superior de onde caem as chuvas.
Assim, é que os hebreus antigos não possuíam nenhuma informação sobre a vida após-túmulo, embora no livro do Gênesis (2:7) encontremos a criação do Homem já com um caráter de múltiplas existências ou vidas.
Muito depois é que o Paraíso passou a ser considerado como a morada celestial dos justos após a morte.

Davi e os profetas foram os iniciadores dos esclarecimentos sobre um “Mundo Vindouro” após a vida física que eles chamavam de “Olam ha-bá”.

Os profetas Daniel (12:2) e Ezequiel (37:1-14) falam do retorno à vida física após a morte, ou seja, a reencarnação, e Davi reforça em seus belos Salmos o conceito de que no Sheol ou Inferno ninguém permanecerá para sempre.
Salmos, 16:9 e 10; 19:8; 23; 36:6-8; 49:15 e 16; 71:20; 86:12 e 13.

Ezequiel acrescenta ainda que Deus não deseja a condenação do ímpio, mas a sua libertação.
Ezequiel, 33:11-20.

Jesus aperfeiçoa e reforça esses conceitos afirmando que não se perderá nenhuma das ovelhas que o Pai lhe confiou.
Mateus, 18:14.
E

ainda Jesus, o Cristo, que põe esses conceitos em prática, indo após a Sua morte em espírito, ao HADES pregar aos espíritos que ali se encontravam.
Vai o Cristo levar-lhes uma mensagem de consolo e espe-rança de que para eles existiriam novas chances.
Aqueles espíritos rece-beram orientação sobre a necessidade de um recomeço através da reen-carnação, significando que todos poderiam recomeçar de onde haviam falhado e que poderiam reiniciar novos esforços no caminho para Deus.
I Epístola de Pedro, 3:19 e 4:6.

Após todo o período pré-moderno de limitados conhecimentos e evoluções dos conceitos sobre Céu, no singular, e Inferno, como regiões de prazer e sofrimento, surge Kardec, o nosso mestre de Lion, com esta obra fantástica O Céu e o Inferno, a “Justiça Divina Segundo o Espiritismo”.
Trazendo conceitos científicos, racionais e novos, demonstrando clara-mente o incontestável: nem Céu nem Inferno como regiões geográficas, mas estados de espírito.

A obra representa o penúltimo livro da coleção de Kardec e passou por várias revisões, correções e acréscimos desde a sua primeira edição em agosto de 1865 até a sua quarta edição com o texto definitivo que conhecemos hoje, lançada em julho de 1869.

Fantástico conteúdo reflexivo e racional que nos põe frente a frente com um julgamento pessoal, intransferível e inevitável na nossa traje-tória evolutiva.

um livro no qual está toda a receita para o despertar da consciência dos cristãos e não cristãos de qualquer corrente religiosa ou até para os que se dizem ateus, sem contar a valiosa colaboração no ensino liber-tador que ele oferece a nós, espíritas.

Analisa o momento da passagem da vida física para a vida espiritual, com muita racionalidade, demonstrando que quanto mais desprendido das coisas materiais e mais evoluído é o Espírito, menos sofrimento enfrentará na hora do desligamento.
Comparando o momento da morte, para o Espírito evoluído, a um sono isento de sofrimento, cujo despertar é cheio de suavidade.

Na sequência, Kardec avalia a condição de várias outras situações de pessoas desencarnadas, por meio de seus depoimentos, nos quais se pode observar a colheita de cada uma delas, segundo suas obras, ao entrar no mundo espiritual.
Kardec avalia o depoimento de cada uma e de acordo com a situação as classifica como mediana, espíritos sofredores, suicidas, criminosos arrependidos e espíritos endurecidos.
Depoimentos muito importantes para nossa avaliação e reflexão pessoal.

Apresenta ainda conceitos racionais, lógicos e científicos sobre o purgatório, as penas futuras, os anjos, os demônios e a proibição de evocar os mortos.

Nestes novos esclarecimentos, Kardec informa que o conceito de Céu, como região dos bem-aventurados, diante da Ciência e da lógica dos fatos, não apresenta suporte.
E que, da mesma forma, o Inferno também foi evoluindo em conceitos que vieram dos pagãos e foram adotados pelos cristãos e que só se perpetuam até os nossos dias porque ainda existem aqueles que não querem compreender e aceitar a mise-ricórdia divina.
Kardec considerou ainda importante ressaltar que o purgatório como um lugar de penalidades se aplica perfeitamente ao planeta Terra, pois é considerado um planeta de expiação.

Para Kardec, o mais racional e lógico é recordar Jesus que afirmava: “na casa de meu Pai tem muitas moradas” e que cada um colhe “segundo suas obras”.

A racionalidade científica desses conceitos nos leva à conclusão de que a alma carrega consigo mesma a alegria e a infelicidade, portanto o inferno estará onde houver almas sofredoras, assim como também o Céu estará sempre por toda parte onde existir almas felizes.

Concordamos plenamente com o juiz Timoléon Jaubert de Carcas-sone que, em carta dirigida a Kardec a respeito desta obra em 1865, se

manifesta afirmando que o livro O Céu e o Inferno é “grande em pensa-mentos, com simplicidade de estilo e severidade em sua lógica.
Possui o germe da teologia futura, a calma da força e a força da verdade”.

Desfrute, pois, meu caro irmão e leitor, deste maravilhoso e racional legado que nos presenteou o mestre de Lion, Hippolyte Leon Denizard Rivail – Allan Kardec.

João Pessoa/PB, 24 de outubro de 2003.

Severino Celestino da Silva

Professor e Orador Espírita

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