Livro Adolescencia e Vida – Joanna de Angelis 10. A violência no corpo e na mente do adolescente

10. A violência no corpo e na mente do adolescenteA adolescência sempre foi considerada um período difícil no desenvolvimento do ser humano, com mais desafios do que na infância, criando embaraços para o próprio jovem como para os seus pais e todos aqueles que com ele convivem.
Trezentos anos antes de Cristo, Aristóteles escrevera que os adolescentes são impetuosos, irascíveis e tendem a se deixar levar por seus impulsos, demonstrando uma certa irritabilidade em relação ao comportamento juvenil. Por sua vez, Platão desaconselhava o uso de bebidas alcoólicas pelos jovens antes dos dezoito anos, em razão da rápida excitabilidade dos mesmos, e propunha: Não se despejar fogo sobre fogo.
Os conceitos sobre a adolescência sempre ganharam aceitação, particularmente quando de natureza sensória, intolerante.
No século XVII, em sermão fúnebre, um clérigo afirmava que a juventude era como um navio novo lançado ao oceano sem um leme, lastro, ou piloto para dirigi-lo, como resultado de uma observação externa, sem aprofundamento, de modo que se pudesse compreender as significativas transformações que se operam no ser em formação, compelindo-o para as atitudes anticonvencionais, período assinalado por mudanças estruturais.
Essas mudanças, que se operam na forma física, repercutem significativamente na conduta psicológica, propondo diferentes relacionamentos com os companheiros, experimentando novos modelos educacionais, vivenciais, enquanto todo ele se encontra em maturação biológica apressada, sem precedentes na sua história orgânica.
Nesse período, compreensivelmente, surgem os conflitos de identidade, em tentativas internas de descobrir quem é e o que veio fazer aqui na Terra. Logo depois surgem-lhe as indagações de como conduzir-se e qual a melhor maneira de aproveitar o período promissor, sem o comprometimento do futuro.
Esse estado de mudanças pode ser breve, nas sociedades mais simples, mais primitivas, ou prolongado, nas tecnologicamente mais desenvolvidas, podendo dar-se de maneira abrupta, ou através de uma gradual transição das experiências antes vivenciadas para as atuais desafiadoras. Em todas as culturas, porém, apresenta-se com um caráter geral de identidade: alterações físicas e funcionais da puberdade, assinalando-lhe o início inevitável, na Os hormônios, que desempenham um fundamental papel transformação orgânica e na constituição dos elementos secundários do sexo, igualmente interferem na conduta psicológica, fazendo ressuscitar problemas que se encontravam adormecidos no inconsciente profundo, na memória do Espírito reencarnado. Isto porque, a reencarnação é oportunidade de refazimento e de adestramento para desafios sempre maiores em relação ao si, na conquista da imortalidade. Na adolescência, em razão das transformações variadas, antigos vícios e virtudes ressumam como tendências e manifestam-se, exigindo orientação e comando, a fim de serem evitados novos e mais graves cometimentos morais perturbadores.
Localizada na base do cérebro, a hipófise tem importância especial na proposta do desenvolvimento da puberdade. Os seus hormônios permanecem inibidos até o momento que sucede um amadurecimento das células do hipotálamo, que lhe enviam sinais específicos, a fim de que os libere. Tal fenômeno ocorre em diferentes idades, nunca sendo no mesmo período em todos os organismos.
Esses hormônios são portadores de uma carga muito forte de estímulos sobre as demais glândulas endócrinas, particularmente a tireóide, a adrenal, os testículos e os ovários, que passam a produzir e ativar os seus próprios, responsáveis pelo crescimento e pelo sexo.
Surgem, então, os androgênios, os estrogênios e as progestinas, estas últimas responsáveis pela gravidez. No metabolismo geral, todos eles interagem de forma que propiciem o desenvolvimento físico e fisiológico simultâneos.
Nesse período de transformações orgânicas acentuadas, o adolescente, não poucas vezes, sente-se estranho a si mesmo. As alterações experimentadas são tão marcantes que ele perde o contacto com a sua própria realidade, partindo então para o descobrimento de sua identidade de forma estranha, inquieta, gerando distúrbios que se podem acentuar mais, caso não encontre orientação adequada e imediata.
Em razão da dificuldade de identificação do si, o jovem tem necessidade de ajustar-se à imagem do seu corpo, detendo-se nos aspectos físicos, sem uma percepção correta da realidade, o que o conduz a conclusões equivocadas, a respeito de ser amado ou não, atraente ou repulsivo, por falta de uma capacidade real para a avaliação.
Nas meninas, o ciclo menstrual surge de uma forma desafiadora e quase sempre causa surpresa, reação prejudicial, quando não estão preparadas, por ignorarem que se trata de um ajustamento fisiológico, ao mesmo tempo símbolo de maturidade sexual.
A desorientação pode deixar sinais negativos no seu comportamento, particularmente sensações físicas dolorosas, rejeição e irritabilidade, na área psicológica, após a menarca. Outras seqüelas podem ocorrer na pré ou na pós-menstruação, exigindo terapia própria.
Os rapazes, por sua vez, se não esclarecidos, podem ser surpreendidos com os fenômenos sexuais espontâneos, como a ereção incontrolada e as ejaculações desconhecidas. Nessa fase eles vivem um espaço no qual tudo pode tomar características de manifestação sexual: odor, som, linguagem, lembrança… Não sabendo ainda como administrar essas manifestações espontâneas do organismo, embaraçam-se e descontrolam-se com relativa facilidade.
Certamente, os jovens da atualidade se encontram muito mais informados do que os outros das gerações passadas, não obstante esses conhecimentos estejam muito distorcidos na mente juvenil, o que perturba aqueles de formação tímida ou portadores de qualquer distúrbio ainda não definido.
A questão da maturação sexual nos jovens não tem período demarcado, podendo ser precoce ou tardia, que resulta em estados de apreensão ou desequilíbrio, insegurança ou audácia, a depender da personalidade, no caso, do Espírito reencarnado com o patrimônio dos méritos e dívidas.
O amadurecimento psicológico faz-se, nessa ocasião, com maior rapidez do que na infância. Há mudanças cognitivas muito fortes, que desempenham um papel crítico para o jovem cuidar das demandas educacionais, sociais, vocacionais, políticas, econômicas, sempre cada dia mais complexas.
As alterações nos relacionamentos, entre pais e filhos, propõem necessidade de maior intercâmbio no lar, a fim de proporcionar um desenvolvimento psicológico saudável, quanto intelectual, equilibrado.
Uma outra questão muito significativa do momento da adolescência é o conflito entre o real e o possível, vivenciado pelo jovem em transição. Ao constatar que o real deixa-lhe muito a desejar, porque se encontra num período de enriquecimento psíquico, torna-se rebelde e transtorna-se, o que não deixa de ser uma característica transitória do seu comportamento.
A harmonia que se deve estabelecer entre o físico e o psíquico, libertando o adolescente da violência existente no seu mundo interior, será conseguida a esforço de trabalho, de orientação, de vivências morais e espirituais, o que demanda tempo e amadurecimento, compreensão e ajuda dos adultos, sem imposições absurdas, geradoras de outras agressões

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