VÓS SOIS A LUZ DO MUNDO – Rodolfo Calligaris – O Sermão da Montanha

Naquela manhã, em que o povo se reunira para ouvir o Divino

Mestre, os raios solares, surgindo no horizonte, iam inundando as

bandas orientais com o resplendor de sua luz.

A superfície tranquila do lago próximo refletia o rosicler das

nuvens matutinas; pássaros trinavam docemente, esvoaçando

entre as árvores; folhas e flores, abrindo-se, viçosas, pareciam

sorrir a benção de um novo dia.

Jesus fitou o Sol nascente, pousou depois o olhar sobre os

discípulos que tinha perto de si e disse-lhes:

— “Vós sois a luz do mundo”.

O seu pensamento íntimo, nesse instante, devia ser: “Assim

como o Sol, dissipando as trevas noturnas, desperta o mundo para

a vida e sazona os produtos da terra, cada um de vós tem por

missão difundir a Boa Nova que venho anunciar aos que se acham

obumbrados pela ignorância e pelo erro, de modo a preparar-lhes

os corações para que deem frutos de mansidão e de fraternidade”.

Como as cidades e aldeias edificadas nos montes ao redor

repontavam na claridade da manhã, o Mestre, apontando-as,

observou:

— “Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte.

E aduziu: Nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do

alqueire, mas sobre o velador, a fim de que ela dê luz a todos os

que estão na casa.
Assim, brilhe a vossa luz diante dos homens;

que eles vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que

está nos Céus”.
(Mateus, 5:14 a 16.
)

Magnífica lição!

Os seguidores do Cristo, por serem “a luz do mundo”, devem

constituir-se em veículo da revelação divina a todos os povos e

nações.
Cada discípulo do Mestre, individualmente, deve ser um

facho de luz a iluminar os homens no caminho para o Céu, sendo

necessário que, por seu intermédio, resplandeça a bondade e a

misericórdia do Pai, pois é desígnio da Providência que a

Humanidade receba as suas bênçãos por meio de instrumentos

humanos.

A missão que o Cristo confiou aos seus seguidores deve

estender-se a todas as criaturas, de qualquer longitude ou latitude

da Terra.
Contrariando os preconceitos da época, quando os

israelitas orgulhavam-se de ser “a porção escolhida por Deus

dentre os povos” e consideravam os demais como “estrangeiros”

imundos e desprezíveis, Jesus ensina que todos pertencemos a

uma só família humana e não traça qualquer limite a nossa “casa”.

Suas palavras: “vós sois a luz do mundo” — “brilhe a vossa

luz diante dos homens”, de sentido nitidamente universalista, nada

têm de comum com o amor-próprio, o preconceito de

nacionalidade e o separatismo intransigente, pregado pelos

rabinos; eliminam todo e qualquer prejuízo de raça, de casta, ou

de quejandos, pois para Deus não há escolhidos e enjeitados, há

apenas almas a serem aquecidas pelo Amor e iluminadas pelo

conhecimento da Verdade.

Os raios do sol alcançam todos os recantos do globo, tanto no

hemisfério oriental como no ocidental; a luz do Evangelho,

igualmente, deve penetrar todas as almas sobre a Terra, a fim de

que participem, sem exclusão de uma só, da glória do Senhor.

Mas.
.
.
não basta ensinar aos homens as excelências da doutrina

cristã.
É preciso — diz o Cristo — que “eles vejam as vossas boas

obras”, tornando patente que cada discípulo deve contribuir com

o seu contingente pessoal de amor aos semelhantes, para que desta

forma sejam levados a “glorificar o Pai celestial”.

Se cada cristão, nestes vinte séculos de Cristianismo, tivesse

atendido à determinação do Mestre, cumprindo fielmente a sua

missão, bem outra seria hoje a situação mundial.
Não se teriam

erguido “cortinas de ferro”, nem qualquer outra espécie de parede

de separação, dividindo os homens em facções que se odeiam e se

hostilizam com guerras frias e quentes, impedindo que se

estabeleça entre nós o “Reino de Deus”, ou seja, um mundo de

paz, porque de justiça, e de alegria inalterável, porque de

felicidade perfeita.

Oxalá muitos ainda consigam, neste ciclo que se fecha, vencer

as trevas do egoísmo que lhes envolvem os corações e se

transformem em agentes vivos da Luz divina que dimana do

Cristo!