O “PAI NOSSO” I – Rodolfo Calligaris – O Sermão da Montanha 5/5 (1)

“Assim, pois, é que haveis de orar:

Pai Nosso que estais nos Céus; santificado seja o vosso nome.

Venha a nós o vosso reino.
Seja feita a vossa vontade, assim na

terra como nos Céus.
O pão nosso de cada dia dai-nos hoje.

Perdoai as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos

devedores.
E não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos de

todo mal.
Assim seja.
” (Mateus, 6:9 a 13.
)

A oração dominical é, sem dúvida, o mais perfeito modelo de

prece que poderia ser concebido.

Concisa, simples e clara, “ela resume” — como diz Allan

Kardec — “todos os deveres do homem para com Deus, para

consigo mesmo e para com o próximo.
Encerra uma profissão de

fé, um ato de adoração e de submissão, o pedido das coisas

necessárias à vida e o princípio da caridade”.

Pena que muita gente, ao recitá-la em seus exercícios

devocionais, não procure compreender a profunda significação de

seu contexto, nem se aperceba das normas de bem viver que ela

prescreve a todos.

Detenhamo-nos, pois, na análise de tão sublime oração,

meditando um pouco sobre cada uma das partes que a compõem:

“Pai Nosso que estais nos Céus, santificado seja o vosso

nome”.

A noção que tenhamos da Divindade reflete-se,

inevitavelmente, em nosso modo de agir.

Nos primórdios da civilização, os homens faziam dos deuses

um conceito mais ou menos uniforme, tomando-os por potências

iradas, às quais era preciso agradar com a oferta de presentes, não

só para desviar os dardos do seu furor, como também para

granjear-lhes os favores e, com sua ajuda, conseguirem saúde,

bem-estar e prosperidade.

Tais oferendas, a princípio, consistiam em frutos; depois

começaram a ser oferecidos animais, que os próprios sacerdotes

degolavam, sendo que entre muitos povos introduziu- se, por fim,

o costume horrível de sacrificar criaturas humanas, especialmente

crianças e mocinhas.

Abrimos o Velho Testamento e o Deus que ali deparamos —

Jeová, o Senhor dos Exércitos, também se nos apresenta como um

ser faccioso, violento, iníquo e vingativo, eis que “escolhe para si

um povo no meio das nações”, cumulando-o de graças, enquanto

aos demais só faz conhecer desgraças; que ordena as mais cruentas

matanças, inclusive de crianças e de animais; que aconselha

pilhagens dignas dos piores bandoleiros e ameaça com pragas

repugnantes todos quantos lhe não atendam às determinações.

Com tais ideias a respeito da Divindade, os homens de então

não poderiam mesmo ser melhores, e daí o darem vazão aos seus

instintos brutais, serem implacáveis em seus ressentimentos e

mostrarem-se impiedosos para com os inimigos.

Um dia, porém, o Cristo desce à Terra e nos fala de um Deus

diferente.
Um Deus infinito em suas perfeiçoes, cuja omsciência

e onipotência manifestam-se por meio das leis imutáveis e sábias

que regem a Criação; um Deus sem favoritismos de espécie

alguma; um Deus bastante amigo para compreender nossas

fraquezas e bastante inteligente para saber corrigi-las e não apenas

castigá-las; um Deus que não quer pereça uma só alma, mas que

todas se salvem e participem de sua glória; um Deus, enfim, a

quem podemos dirigir-nos confiantemente, chamando-o pelo doce

nome de Pai.

Notemos, entretanto, que, ao ensinar-nos a chamar-lhe Pai

Nosso, Jesus deixa claro ser Ele pai de toda a grande família

humana, e não apenas de uns poucos escolhidos.

Contrariamente, portanto, ao ensino de certas religiões, são

filhos de Deus todos os homens espalhados por todas as longitudes

e latitudes do globo; de todas as raças e civilizações; de todas as

classes e de toda fé: católicos e protestantes, espíritas e budistas,

muçulmanos e judeus, rosacrucianos e fetichistas, e até os ateus,

apesar de pecadores, apesar de transviados, porque todos,

absolutamente todos, são amados por Ele com igual e paternal

solicitude e hão de ser procurados e salvos pelo Divino Pastor:

Nosso Senhor Jesus Cristo.

Por isso, ó Deus, porque sois todo Amor e Bondade, Justiça e

Misericórdia, seja o vosso santo nome bendito e louvado por toda

a Terra, assim como por todo o Universo, nos astros mais remotos,

nos espaços incomensuráveis, onde quer que a vida que provém

de vós se haja manifestado, pois não há quem não pressinta a vossa

existência e o fim ditoso para que nos criastes!

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