O cálice das pérolas – Redação do Momento Espírita


Era uma vez.
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As histórias maravilhosas começam assim.
Não importa o tamanho delas.
Se começam por era uma vez, são sempre maravilhosas.

Pois era uma vez um homem.
Um homem pobre que de precioso só tinha um cálice.

Nele, ele bebia a água do riacho que passava próximo à sua casa.
Nele, bebia leite, quando o conseguia, em troca de algum trabalho.

Era pobre, mas feliz.
Feliz com sua esposa, que o amava.
Feliz em sua pequena casa, que o sol abraçava nos dias quentes, tornando-a semelhante a um forno.

Feliz com a árvore nos fundos do terreno, onde escapava da canícula.

Saía pelas manhãs em busca de algum trabalho que lhe garantisse o alimento a ele e à esposa, a cada dia.

Assim transcorria a vida, em calma e felicidade.
Nas tardes mornas, quando retornava ao lar, era sempre recebido com muita alegria.

Era um homem feliz.
Trazia o coração em paz, sem maiores voos de ambição.

Então, um dia.
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Sempre há um dia em que as coisas acontecem e mudam o rumo da história.

Pois, nesse dia, nem ele mesmo sabendo o porquê, uma lágrima caiu de seus olhos, dentro do cálice.

De imediato, o homem ouviu um pequeno ruído, como de algo sólido, que bateu no fundo do recipiente.

Olhou e recolheu entre os dedos uma pérola.
Sua lágrima se transformara em uma pérola.

Então, o homem pensou que poderia ficar muito rico se chorasse bastante.

Como não tinha motivos para chorar, ele começou a criá-los.
Precisava se tornar uma pessoa triste, chorosa, para enriquecer.

Com o dinheiro da venda das pérolas pensava comprar lindas roupas para sua esposa, uma casa mais confortável, propriedades, um carro.

E assim foi.
Ele começou a buscar motivos para ficar triste e para chorar muito.

Conseguiu muitas riquezas.
Ele poderia tornar a ser feliz.
No entanto, desejava mais.

As pequenas coisas que antes lhe ofertavam alegrias, agora, de nada valiam.

Que lhe importava o raio de sol para se aquecer no inverno? Com dinheiro, ele mandou colocar calefação interna em toda sua residência.

Por que aguardar os ventos generosos para arrefecer o calor nos dias de verão? Com dinheiro, ele pediu para ser instalado ar condicionado em toda a sua casa.

E no carro, e no escritório que adquiriu para gerir os negócios que o dinheiro gerara.

E a tristeza sempre precisava ser maior.
Do tamanho da ambição que o dominava.

Nunca era o bastante.
Os afagos da esposa, no final do dia e nos amanheceres de luz deixaram de ser imprescindíveis.

Ele não podia perder tempo.
Precisava chorar.
Precisava descobrir fórmulas de ficar mais triste e derramar mais lágrimas.

Finalmente, quando o homem se deu conta, estava sem esposa, sem amigos.
Só.
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com seu dinheiro, toda sua imensa fortuna.

Chorando agora, estava tão desolado, que nem mais se importava em despejar o dique das lágrimas no cálice.

A depressão tomara conta dele e nada mais tinha significado.

* * *

A história parece um conto de fadas.
Mas nos leva a nos perguntarmos quantas vezes desprezamos os tesouros que temos, indo à cata de riquezas efêmeras.

Pensemos nisso e não desperdicemos os valores verdadeiros de que dispomos.
Nem pensemos em trocá-los por posses exageradas.

A tudo confiramos o devido valor, jamais perdendo nossa alegria.

Haveres conquistados à troca de infelicidade somente geram infelicidade.

Pensemos nisso!

Redação do Momento Espírita a partir de pequeno conto do

cap.
4 do livro O caçador de pipas, de Khaled Hosseini,

ed.
Nova Fronteira.

Em 30.
3.
2020.

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