VÓS SOIS O SAL DA TERRA – Rodolfo Calligaris – O Sermão da Montanha 5/5 (1)

Disse Jesus, dirigindo-se a seus discípulos:

“Vós sois o sal da terra.
E se o sal perder sua força, com que

outra coisa se há de salgar? Para nada mais fica servindo, senão

para se lançar fora e ser pisado pelos homens”.
(Mateus, 5:13.
)

Que admirável comparação!

Como se sabe, o sal é um elemento de grande utilidade, pois

serve para dar sabor aos alimentos, assim como para preservá-los,

evitando que se corrompam.

Dizendo serem os cristãos o sal da terra, quis o Mestre

significar que eles devem ser, no mundo, fatores de gozo espiritual

e de preservação moral.

Aprofundemos, agora, um pouco mais, a exegese desse texto

evangélico.

Para que o sal exerça suas propriedades, mister se faz seja

misturado às substâncias alimentícias, penetrando-as; sem isso,

nenhum efeito pode produzir.

Assim também, é pelo contato pessoal, pela convivência com

os homens aos quais desejamos beneficiar, que haveremos de

infundir-lhes princípios salutares e salvadores.

Sendo o dever primeiro de todo cristão amar o próximo como

a si mesmo, cumpre, pois, nos acheguemos aos que precisem de

nós, auxiliando-os, esclarecendo-os, consolando-os e servindo-os

por todos os meios de que possamos dispor, a fim de que, por

nosso intermédio, venham a sentir a inefável presença divina em

seus corações.

Os que se afastam do convívio mundano, segregando-se entre

quatro paredes, por mais que se sacrifiquem, passando toda a

existência em orações ou cilícios (na suposição de assim

alcançarem a purificação de suas almas), não passam de refinados

egoístas, porquanto buscam apenas a própria salvação,

esquecendo-se da solidariedade e do sentimento de fraternidade

que deve vincular todos os filhos de Deus.

É preciso notar, por outro lado, que, usado em demasia, o sal

torna os alimentos intragáveis, impossíveis de serem comidos.

Semelhantemente, há certos tipos de cristãos que, por

exagerado puritanismo ou excesso de religiosidade, tornam a vida

espiritual lúgubre, enfadonha, detestável até.

São os tais para quem tudo é escândalo, pecado e abominação;

que a si mesmos infligem uma série de regras, disciplinas,

controles e exames de consciência que atingem as raias do

fanatismo, chegando ao absurdo de não se permitirem a menor

alegria, o mais ingênuo comprazimento, com receio de, com isso,

estarem ofendendo ou desagradando a Deus.

Pobres criaturas! Não distinguem o abismo que medeia entre a

dissipação e os prazeres honestos, entre a libertinagem

desenfreada e a gloriosa liberdade de espírito, indispensável ao

pleno desenvolvimento de suas faculdades.

Carregam demais no sal.

Atentemos, por último, na advertência do Cristo: “Se o sal

perder sua força e tornar- se insípido, para nada mais presta

senão para se lançar fora e ser pisado pelos homens”.

Ela diz respeito aos fariseus de todos os tempos e de todas as

confissões religiosas, ou seja, aos indivíduos que, conquanto

pertençam a esta ou àquela igreja, não pautam seus atos pela

doutrina que dizem esposar, só guardam a aparência de virtuosos

e, nessas condições, não podem exercer nenhuma influência

benéfica naqueles que os rodeiam.

Ninguém pode dar aquilo que não tem; consequentemente, é na

medida de nossa fé, de nossa sinceridade, de nosso devotamento

ao bem que poderemos contribuir para o soerguimento da

Humanidade, fazendo-a melhor e mais feliz.

E é isso, unicamente isso, que pode fazer de nós “o sal da

terra”.

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