O Desafio da Prevenção

Lídia Rosenberg Aratangy

Julio Groppa AQUINO, organ. Drogas Na Escola. Alternativas Teóricas e Práticas. S. Paulo, Summus Editorial, 1998.

Não é fácil resistir à atração que as drogas exercem […] ter consciência de um perigo não é suficiente para garantir a força de vontade necessária para tomar uma atitude drástica e romper com uma dinâmica perniciosa. […] Se cada um procurar dentro de si,
encontrará a forma que toma a sua droga particular, seja ela uma pessoa ou um comportamento. […] O que move uma pessoa em direção à droga está, na origem, muito perto do que levou o homem […] às grandes descobertas, afrontando o perigo do desconhecido, […] reflexo do desejo de conhecer sempre mais, da ousadia de romper
limites. […]

…O adolescente tem, diante dos perigos, uma postura extremamente onipotente e se comporta como se tivesse um pacto pessoal de imunidade contra os males do mundo. […] O discurso dirigido ao adolescente exige cuidados especiais. […]

O que não funciona?

A primeira falácia consiste em optar pela soberania do racional, reduzindo a discussão sobre drogas a um curso de química avançada […] é, acima de tudo, uma questão emocional, não racional.

Outro erro comum está em reduzir a discussão sobre drogas a um curso sobre moral e religião, definindo o bem e o mal como se fossem absolutos. Uma das mais importantes características da adolescência é a busca de um quadro de referências próprio […].

Também não atingem o objetivo de prevenção patrocinar atividades pontuais e isoladas, como uma palestra […] ou depoimentos […] correm o risco de confirmar a onipotência adolescente, fazendo-os acreditar que […] serão capazes de largar a droga […].

A participação dos alunos num projeto de prevenção, mesmo que inclua a elaboração e apresentação de trabalhos, não deve [..] fazer parte de nenhum sistema de avaliação com o poder de aprovar ou reprovar […].

É possível prevenir sem reprimir?

O caminho para a prevenção do uso de drogas […] é oferecer canais para que o jovem possa dar vazão à sua necessidade de viver experiências sinificativas e de partilhá-las com seu grupo. […]

Em resumo, um programa de prevenção eficiente teria de:

1. Levar em conta a dimensão emocional, oferecendo ao jovem opções culturalmente válidas, […] atividades esportivas, desenvolvimento de expressões artísticas, atividades culturais;

2. Levar em conta a preocupação social e a necessidade de pertinência do jovem, [i.e., pertencer a um grupo], abrindo a possibilidade de participação ativa em questões que envolvem a comunidade da qual a escola faz parte;

3. Oferecer informações verdadeiras e não preconceituosas […];

4. Respeitar a inteligência do jovem, não usando mensagens alarmistas e deformadas (não tratar, por exemplo, todas as drogas como se oferecessem o mesmo risco, não confundir o uso eventual de uma substância psicoativa com o uso habitual e contínuo);

5. Não fazer afirmações sobre as sensações que a droga produz […];

6. Abrir um espaço para orientação dos pais de alunos, para que estes não se sintam tão despreparados e desamparados para lidar com os desafios da adolescência.

 

Agradecemos Gloria Vetter e Paulo Dias pelo envio deste texto.

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