Robert Hare

Escrito por Jon Aizpúrua

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Cientista norte-americano no século XIX, físico e químico de grande renome, Robert Hare foi o primeiro homem de ciência nos Estados Unidos a se dedicar à investigação experimental dos fenômenos mediúnicos e à defesa e propagação das idéias espíritas.

Nascido em 17 de janeiro de 1781 em Filadélfia, então capital do país, filho de Roberto Hare e de Margareth Willing, imigrantes ingleses dedicados ao comércio e à indústria, recebeu esmerada educação no próprio lar e, em seguida, nos melhores institutos da cidade.

Em 1801, enviou uma comunicação à Sociedade de Química de Filadélfia, da qual era membro, informando sobre a invenção do maçarico oxídrico, aparelho para produzir e projetar uma chama, que se converteria em um recurso indispensável na indústria e nos laboratórios. Viriam depois outros inventos que lhe consagrariam entre os cientistas de maior prestígio.

 

Descobertas

Hare aperfeiçoou vários tipos de pilhas voltaicas que, associadas em série, geravam altas correntes. Criou o calorimotor, aparelho elétrico de calefação, construiu o primeiro forno elétrico e descobriu diversas reações químicas e suas múltiplas aplicações tecnológicas.

A partir de 1818, passou a dirigir a Cátedra de Química da famosa Universidade da Pensilvânia, onde se destacou por seu notável sentido pedagógico. Considerava indispensável que todo conhecimento teórico que fosse proposto deveria ser acompanhado por sua respectiva demonstração experimental. Recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Yale e Harvard. Em 1839, a “American Academy of Arts and Sciences” conferiu-lhe uma significativa homenagem, concedendo-lhe a importante Medalha Rumford “por seus relevantes trabalhos em prol da Ciência”.

Hare publicou mais de 150 trabalhos, contando seus livros e as memórias científicas, nos quais deixa perceber claramente o currículo que o distinguiu e também sua capacidade como investigador, experimentador e acadêmico.

 

Homem da Ciência

Em 1847, aos 66 anos de idade, Hare se aposentou do cargo de professor universitário e ofereceu sua valiosa coleção de aparelhos de física e química ao “Smithsonian Institut”. No ano seguinte, esta famosa corporação científica designou-o como sócio honorário. Ali concluiria o que se poderia considerar a primeira etapa de vida desse notável homem de ciência. Seria aberto, então, um caminho no qual também investigaria e faria experimentos com igual rigor, mas em outra direção.

As insólitas manifestações que se desencadearam em 1848 no pequeno povoado de Hydesville, no Estado de Nova York, protagonizadas pelas irmãs Fox, haviam gerado um vasto movimento de opiniões em torno das manifestações dos espíritos, com a aprovação de uns e a condenação de outros. Homens respeitáveis, como o magistrado da Corte Suprema de Nova York, John Edmonds, o governador de Wiscon-sin, Nathaniel Tallmadge, e o professor universitário James Mapes, proclamavam sua adesão ao nascente movimento conhecido como Espiritualismo Moderno.

Para Robert Hare, formado na mais rigorosa ciência de seu tempo e cético por natureza, pareceu inconcebível a atitude daqueles homens cultos e de destaque na sociedade. Escreveu em 1853 um artigo com uma forte crítica contra o que considerava uma nova superstição, publicado nos jornais de Filadélfia e outras cidades. Dizia: “Sinto-me obrigado, pelo dever para com meu próximo, a empenhar toda a minha influência no sentido de deter a corrente de loucura popular que, desafiando a Ciência e a Razão, pronuncia-se favoravelmente a esse grosseiro embuste que é o Espiritismo”.

 

Ceticismo

Começou então a realizar sessões experimentais com diversos médiuns, os quais submetia aos mais rigorosos controles. Diante dos primeiros fenômenos que observou, que consistiam em movimentos de mesas e outros objetos sem contato físico, assim como os “raps” ou golpes nas paredes, considerou que podiam ser explicados pela hipótese do físico inglês Michael Faraday, segundo a qual tais acontecimentos se deviam a movimentos musculares imperceptíveis conduzidos por uma ação inconsciente. Mas pouco a pouco foi se defrontando com manifestações mediúnicas mais complexas, de caráter físico e inteligente, que resistiam com êxito às provas e às representações mais engenhosas.

Depois de dois anos de intenso trabalho, o ceticismo de Robert Hare foi vencido pela evidência dos fatos, os quais demonstravam que os médiuns eram intermediários que facilitavam, com suas atitudes, a intervenção de seres inteligentes extrafísicos, ou melhor, os espíritos.

 

A obra

Em fins de 1855, publicou seus estudos e suas conclusões em uma obra volumosa, com mais de 400 páginas e com ilustrações de todos os seus trabalhos, intitulada Investigação Experimental das Manifestações dos Espíritos – Demonstração da Existência dos Espíritos e sua Comunicação com os Mortais. O livro alcançou grande êxito, tanto por seu conteúdo como pela reputação científica do autor e suas prévias declarações contra o Espiritismo.

Comentando os engenhosos procedimentos de Hare nas sessões mediúnicas e a importância desse livro, Gabriel Delanne, na obra O Fenômeno Espírita, disse: “Aqui já não se trata de algumas obscuras adolescentes ou de charlatães explorando a boa fé pública, trata-se da própria ciência oficial, que se pronuncia pela boca de um de seus mais autorizados membros”.

Uma vez mais se repetia a história: quando um investigador sério e objetivo decide estudar os efeitos do Espiritismo de maneira sistemática e organizada, conclui reconhecendo sua veracidade. Mas também, infelizmente, repete-se a história quando esse cientista, honrando seu compromisso com a verdade, divulga suas conclusões e passa a sofrer as desclassificações de seus colegas.

 

Oposição

Quando Hare propôs discutir o tema nas universidades onde havia sido reconhecido durante tantos anos como professor emérito, estas se opuseram a que se realizasse qualquer avaliação de seus estudos, sendo desqualificado e repudiado da mesma forma que ocorreu com Crookes, Wallace, Zöllner e tantos outros eminentes cientistas, que proclamaram sua identificação com o Espiritismo e pagaram um alto preço por defender a verdade e enfrentar os dogmas e os preconceitos que pontificam os meios acadêmicos, culturais e religiosos de nossas sociedades.

Robert Hare desencarnou em sua cidade natal em 15 de maio de 1858. O Espiritismo o reconhece entre seus mais notáveis e valentes pioneiros.

 

Artigo publicado na Revista Cristã de Espiritismo, edição 10.

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