CONSTRUAMOS SOBRE A ROCHA – Rodolfo Calligaris – O Sermão da Montanha

Ao concluir os ensinamentos do maravilhoso Sermão da

Montanha, empregou Jesus a seguinte ilustração:

“Todo aquele que ouve estas minhas palavras, e as observa,

será comparado a um homem prudente, que edificou a sua casa

sobre a rocha.
Veio a chuva, transbordaram os rios, sopraram os

ventos, e combateram aquela casa, e ela não caiu, porque estava

fundada sobre a rocha.

E todo aquele que ouve estas minhas palavras, mas não as

observa, se assemelha a um homem insensato, que construiu sua

casa na areia.
Quando a chuva caiu, os rios transbordaram, os

ventos sopraram e a vieram açoitar, ela foi derribada e grande

foi a sua ruína”.
(Mateus, 7:24 a 27.
)

Essa advertência do Mestre tinha endereço certo: buscava

penetrar a consciência dos que o ouviam; tocá-los, despertá-los e

fazê-los sentir a necessidade de uma reforma de seus hábitos, pois

sabia que, trabalhados gerações pós gerações pelo farisaísmo, se

haviam esquecido do Decálogo que lhes fora dado no Sinai, tendose

acostumado a observar tão somente umas tantas práticas e

cerimônias exteriores, persuadidos de que isso era o bastante para

torná-los irrepreensíveis aos olhos do Senhor.

Ainda hoje, infelizmente, muitos existem, em todas as

organizações religiosas, que incidem no mesmo erro.
Invertendo

a hierarquia dos valores, demonstram zelo extremado pelo que é

secundário, negligenciando por completo aquilo que é essencial.

Também entre os espíritas — forçoso é reconhecê-lo — é

grande, até agora, o número dos que se aferram às chamadas

“sessões práticas”, nem sempre bem conduzidas, e não saem

disso, esquecendo-se do estudo metódico e profundo da Doutrina,

em seu tríplice aspecto: científico, filosófico e religioso, a fim de,

com esse preparo, poderem auxiliar, eficazmente, tanto os

desencarnados, nos trabalhos de esclarecimento e desobsessão,

como os encarnados que careçam de melhor orientação na vida.

Outro engano comum a muitos que se têm na conta de cristãos,

é o suporem que a memorização das Escrituras, o conhecimento

teórico de princípios religiosos corretos ou a concordância com

certos dogmas teológicos seja suficiente para a salvação de suas

almas.

O mero assentimento intelectual à Verdade, entretanto, não

constitui, por si só, mérito algum e será de todo inútil se não fizer

que os homens produzam frutos de bondade e justiça no trato com

os semelhantes.

Aliás, sabem-no todos, os crimes mais abomináveis que

enegrecem as páginas da História foram praticados por criaturas

que se vangloriavam de ser oráculos da Divindade, como há, ainda

nos dias que correm, não poucos representantes da pretendida

ortodoxia religiosa, cujos atos são de estarrecer.

Jesus veio revelar-nos que a Religião pura e genuína consiste,

não apenas em satisfazer a formalismos cultuais, mas em cumprir

os mandamentos da Lei, o que exige de um esforço constante no

sentido de vencer suas imperfeições e, ao mesmo tempo, em

desenvolver aquelas virtudes que o levem a “amar a Deus sobre

todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”.

Então, semelhantemente ao homem sábio que edificou sua casa

sobre a rocha, tomemos os preceitos divinos expostos pelo Mestre

como fundamento de nossa norma de vida, e não simplesmente de

nosso credo.

Sim, porque aqueles que pregam e ensinam tais preceitos, mas

não testemunham aquilo que pregam e ensinam, assim os que

confiam na eficácia dos sacramentos de sua igreja, mas não tratam

de modelar seu caráter pelo do excelso modelo — o Cristo, estão

construindo sobre a areia e, portanto, a si mesmos se reservam

grandes amarguras e terríveis desilusões.

Loading