“Quando jejuardes, não vos ponhais tristes como os
hipócritas, que desfiguram o semblante para que os homens vejam
que eles estão jejuando.
Em verdade vos digo que já receberam a
sua recompensa.
Vós, quando jejuardes, perfumai a cabeça e lavai o rosto, a fim
de que o vosso jejum não seja visível aos olhos dos homens e sim
aos do vosso Pai, que tem presente a si o que haja de mais secreto;
e vosso Pai, que vê o que se passa em segredo, vos
recompensará.
” (Mateus, 6:16 a 18.
)
Sabe-se que o jejum — abstenção ou redução na dose usual de
alimentos, sólidos ou líquidos — constitui uma forma de
penitência comum a várias religiões.
Os judeus, quando o praticavam, vestiam-se com saco,
lançavam cinza sobre a cabeça e imprimiam ao rosto um ar de
grande tristeza, tudo isso publicamente, com ostentação, para
serem notados e louvados pelos outros.
Jesus, percebendo-lhes a hipocrisia e o orgulho, recomendou a
seus discípulos que, ao fazerem esse sacrifício, não deixassem
transparecer nenhum sinal de melancolia; ao contrário, que
“perfumassem a cabeça e lavassem o rosto”, a fim de que não
perdessem, aos olhos de Deus, o mérito que um sincero
quebrantamento de alma poderia comunicar a esse costume.
Parece-nos que um dia de jejum por semana, como ainda hoje
é observado por alguns, constitui, realmente, um hábito salutar,
pois contribui para desintoxicar e manter o equilíbrio de nosso
organismo, resultando daí reflexos favoráveis até mesmo ao nosso
psiquismo, ou seja, às nossas manifestações intelectuais e morais.
Conta-se, por exemplo, que certo dia, ao sair de um festim,
Filipe de Macedônia foi procurado por uma pobre mulher, que lhe
implorou a reparação de uma injustiça.
Como a condenasse, ela exclamou:
— Apelo!
— E para quem? — Perguntou o rei.
— Para Filipe, em jejum.
Impressionado por essa resposta, ele decidiu reexaminar a
questão e, depois, em nova disposição, modificou a sentença.
O Espiritismo, por não adotar ritual de espécie alguma, tem
como estéril qualquer privação que obedeça a mero formalismo
religioso, considerando mais importante que nos abstenhamos de
qualquer pensamento, palavra ou ato maldoso, por contrários ao
amor fraternal que a todos nos deve unir.
Acha meritório, entretanto, que nos privemos de alguma coisa
necessária à nossa vida para dá-la a quem mais precise dela,
porque aí haverá abnegação e caridade.
Recomenda, também, como exercício proveitoso ao nosso
progresso espiritual, que sejamos sóbrios e moderados em tudo e,
em vez de mortificarmos a carne, o que, muitas vezes, só serve
para arruinar nossa saúde, impedindo-nos de bem cumprir a lei do
trabalho e deveres outros para com o meio social, tratemos de
mortificar os nossos instintos inferiores, privando-os da satisfação
de prazeres grosseiros ou inúteis, para não adquirirmos hábitos
viciosos que, uma vez enraizados, tornar-se-ão difíceis de
extirpar.
Outra forma de jejum que não se cansa de aconselhar é a
castidade, ou melhor, o emprego metódico das forças geradoras,
porque, conforme está hoje comprovado, o abuso dos prazeres
sexuais ocasiona a fraqueza cerebral, determina esgotamento das
energias mais nobres e conduz à decadência moral, senão mesmo
à loucura.
Tais forças, quando controladas racionalmente, canalizam-se
para as funções mais elevadas do homem: as da mente e do
coração; e, sublimando-o, tornam-no apto a grandiosas
realizações em prol da coletividade.
E isso, sem dúvida, será a
maior recompensa que um discípulo do Cristo pode almejar.