“Venha a nós o vosso reino.
”
Que devemos entender por “Reino de Deus” (ou “Reino dos
céus”)?
Em mais de uma dezena de parábolas, todas elas muito
engenhosas e edificantes, Jesus focaliza os diversos aspectos que
o caracterizam.
Eis algumas delas: a do semeador, do joio e do
trigo, do grão de mostarda, do fermento, do tesouro escondido, da
pérola, da rede, do credor incompassivo, dos trabalhadores e as
diversas horas do trabalho, dos dois filhos, dos lavradores maus,
das bodas, das virgens etc.
Um exame atento dessas parábolas deixa patente que “o Reino
de Deus” não é propriamente um “lugar” de delícias, nem uma
organização cujos membros se identifiquem por uma determinada
fé, mas algo que se verifica no íntimo de nós mesmos: a evolução,
o aperfeiçoamento de nossas almas.
Segundo o apóstolo Paulo, “o Reino de Deus não é comida,
nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo”
(consciência).
(Romanos, 14:17.
)
Que precisamos fazer para nos tornarmos súditos desse Reino?
Isso também foi explanado pelo Mestre com a máxima clareza,
constituindo mesmo a ideia central de seus ensinos.
Sirvam-nos
de exemplo, entre inúmeros outros, os seguintes passos
evangélicos: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor, entrará no
Reino dos Céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai”.
(Mateus, 7:21.
) — “Vinde, benditos de meu Pai, possuí o reino
que vos está preparado desde o princípio do mundo; porque tive
fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era
hóspede, e me recolhestes; estava nu, e me cobristes; estava
enfermo, e me visitastes; estava no cárcere, e viestes ver-me.
.
.
Na
verdade vos digo que, quantas vezes fizestes isto a um destes meus
irmãos mais pequeninos, a mim é que o fizestes.
” (Mateus, 25:34
a 36, 40.
) — “E eis que se levantou um doutor da lei e disse, para
o tentar: Mestre, que hei de fazer para entrar na posse da vida
eterna? Disse-lhe então Jesus: Que é o que está escrito na lei?
Como a lês tu? Ele, respondendo, disse: Amarás o Senhor teu
Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas
forças, de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti
mesmo.
E Jesus lhe disse: Respondeste bem; faze isso e viverás.
”
(Lucas, 10:25 a 28.
)
Diante de textos tão cristalinos, parece não subsistir a menor
dúvida de que nossa entrada no Reino de Deus depende, não da
simples aceitação de uns tantos dogmas religiosos, nem da
submissão a este ou àquele sacramento, mas tão somente de
possuirmos aquelas qualidades morais que exornam o homem
justo e bom.
Quando se estabelecerá entre nós esse Reino?
Tal pergunta, igualmente, fora feita certa vez pelos fariseus, e
a ela o Mestre deu a seguinte resposta, breve, mas profunda: “O
Reino de Deus não virá com aparência exterior, nem dirão: ei-lo
aqui, ou ei-lo acolá; o Reino de Deus está dentro de vós”.
(Lucas,
17:20 e 21.
)
Meditemos bem nestas palavras: “O Reino de Deus está dentro
de vós!”.
Não se trata, portanto, de um evento futuro, remoto,
como muitos o imaginam, mas de um fato atual, presente.
Com efeito, se nossa alma é “imagem e semelhança de Deus”,
como diz o Gênesis; se fomos gerados, não da carne, nem da
vontade do varão, “mas de Deus”, como nos afirma João, o
evangelista; se “dele (Deus), por Ele e nele existem todas as
coisas”, como nos revela Paulo, esse Reino, inquestionavelmente,
está dentro de nós, se bem que em estado latente, à semelhança da
planta contida em potencial na semente.
Enquanto o homem ignora a natureza divina de sua alma e vai
vivendo egoisticamente, embora o Reino de Deus esteja nele, ele
não está no Reino de Deus e daí a sua inquietação e seus
sofrimentos.
Quando, porém, faz essa preciosa descoberta e passa
a esforçar-se por desenvolver o seu Cristo interno, pautando os
atos de sua vida por aquele ideal sublime que consiste em “fazer
a vontade do Pai”, o Reino de Deus entra a desenvolver-se dentro
dele, cresce, expande-se, atinge a plenitude, e sua alma ganha
então uma paz, uma tranquilidade e uma alegria indescritíveis, que
nada, vindo de fora, é capaz de destruir.
Posto que o Reino de Deus, qual o havemos entendido, não
pode ser implantado na Terra sem que antes seja uma realidade
em cada ser humano que o habite, ajuda-nos, Senhor, a vencer
nossa ambição desmedida, nosso orgulho insensato, nossa
prepotência descaridosa, nossa vaidade tola, enfim, todos os
sentimentos malsãos que ainda nos mantêm desunidos, dispersos
e inimizados!
Dá, ó Pai, que cada um de nós compreenda o dever de cooperar
para a civilização universal, sem barreiras de espécie alguma, e
que todos sintamos o desejo de viver como irmãos, vinculados
pelo amor!