NÃO FAÇAIS VOSSAS BOAS OBRAS DIANTE DOS HOMENS – Rodolfo Calligaris – O Sermão da Montanha

“Guardai-vos, não façais vossas boas obras diante dos

homens, com o fim de serdes vistos por eles; de outra sorte, não

tereis a recompensa da mão de vosso Pai que está nos Céus.

Quando, pois, deres a esmola, não faças tocar a trombeta

diante de ti, como praticam os hipócritas nas sinagogas e nas

ruas, para serem honrados pelos homens; em verdade vos digo

que eles já receberam a sua recompensa.

Mas, quando deres a esmola, não saiba a tua mão esquerda o

que faz a tua direita, para que tua esmola fique escondida, e teu

Pai, que vê o que tu fazes em secreto, te pagará.
” (Mateus, 6:1 a

4.
)

Como ressalta do texto evangélico que antecede estas linhas,

há duas maneiras bem distintas de fazer boas obras: uma, ditada

pelo orgulho; outra, inspirada pela caridade.

Aquela, fortemente impregnada do espírito farisaico, que

consiste em aparentar virtudes inexistentes, em exaltar a própria

personalidade; esta, calcada na sinceridade e na compaixão pelos

sofredores, sem outro objetivo senão fazer o bem pelo amor ao

bem.

Aquela, visando a compensações, como a consideração e os

louvores da sociedade; esta, buscando apenas a alegria íntima do

cumprimento de um dever.

Os fariseus do passado, quando se dirigiam ao templo ou saíam

à rua para distribuir esmolas, faziam-se preceder por arautos, que

lhes anunciavam a presença com estridentes toques de trombeta.

Utilizavam-se desse meio para se fazerem notados pelo povo e

adquirirem fama de santos, quando, na realidade, o que abundava

neles era a hipocrisia e não a piedade.

Lamentavelmente, criaturas assaz imperfeitas que ainda somos,

também nós gostamos de aparecer em campanhas de larga

repercussão, mormente quando haja divulgação de nomes dos

“benfeitores”, mas, não raro, negamos um minuto de atenção a

esses infelizes farrapos humanos que nos batem à porta, furtamonos

ao mais insignificante favor a quem não no-lo possa retribuir,

assim como arranjamos sempre uma desculpa para esquivar-nos a

qualquer esforço próprio, quando se nos ofereça ensejo de

colaborar, anonimamente, nesta ou naquela tarefa de assistência

aos desvalidos.

Ensinando-nos a fazer o bem sem ostentação, silenciosamente,

dando com a direita, sem que a esquerda o saiba, Jesus quer

desenvolvamos em nós os sentimentos de humildade e de legítima

fraternidade cristã, sendo modestos e recatados no benefício que

fazemos, a fim de não agravarmos a amargura de nossos irmãos

necessitados, porquanto, apesar de sua má condição social, eles

também possuem dignidade pessoal, que devemos respeitar.

Assim, pois, socorrê-los publicamente, expondo-os a

humilhações, é profanar a caridade, tornando-a apenas uma

agência de publicidade a serviço de nosso personalismo egoísta e

mercenário.

Enquanto fizermos boas obras apenas para sermos vistos pelos

homens, sorvendo, qual delicioso néctar, as palavras de elogio que

eles nos dirijam, teremos, na própria satisfação efêmera de nossa

vaidade, a recompensa de nossos feitos, sem que nada mais nos

seja creditado na contabilidade celeste.

Quando, porém, soubermos agir sob os impulsos generosos do

coração, por verdadeiro altruísmo; quando formos capazes de

servir e passar, sem esperar, sequer, uma palavrinha de gratidão,

então, sim, estaremos desenvolvendo nosso Cristo interno e,

sintonizados com o Pai celestial, onde quer que estejamos,

viveremos permanentemente na mais perfeita tranquilidade de

alma, gozando a gloriosa e inenarrável felicidade de.
.
.
ser bom!

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