CONCEITO CRISTÃO DO ADULTÉRIO – Rodolfo Calligaris – O Sermão da Montanha

“Ouvistes que foi dito aos antigos: não adulterarás.
Eu, porém,

vos digo: todo o que olhar para uma mulher, cobiçando-a, já no

seu coração cometeu adultério com ela.

E se o teu olho direito te serve de escândalo, arranca-o e lançao

fora de ti; porque melhor te é que se perca um dos teus membros

do que todo o teu corpo seja lançado no inferno.

E se tua mão direita te serve de escândalo, corta-a e lança-a

fora de ti; porque é melhor que se perca um dos teus membros do

que todo o teu corpo vá para o inferno.
” (Mateus, 5:27 a 30.
)

Pelas leis moisaicas, às quais o Mestre se refere no texto citado,

quando diz: “Ouvistes que foi dito aos antigos”, o homem só era

considerado adúltero quando consubstanciasse em ato a

infidelidade conjugal.

Jesus, no entanto, veio instituir novos princípios, novos padrões

para a conduta humana, alicerçados na pureza de coração e na

inteireza de caráter, segundo os quais são considerados culposos

não só os atos desonestos, mas até mesmo a intenção de praticalos.

É que, aos olhos de Deus, pouco ou quase nada vale a simples

aparência da virtude, a contenção forçada, quando o espírito arda

em desejos inconfessáveis.

Aquele que pensa no mal, que se compraz na concupiscência,

pela legislação cristã é tão censurável quanto o adúltero, porque,

quase sempre, só a falta de uma ocasião favorável impede que o

seu pensamento erótico se transforme em ato.

Aquele que cai em adultério é porque mentalmente já vinha

concebendo tal aventura, já alimentava essa ideia impura, e pois,

ao concretizá-la, apenas torna manifesto aquilo que se achava

oculto, mas latente no íntimo de seu ser.

Nem sequer pode escusar-se, alegando tenha sido levado a esse

mau passo por uma tentação vinda “de fora”, porquanto a verdade

é que “cada qual é tentado segundo suas próprias fraquezas”.

Jesus, conhecedor profundo da psicologia humana, sabia que

“do coração é que partem os maus pensamentos, os assassínios, os

adultérios, as fornicações, os furtos, os falsos testemunhos, as

blasfêmias e as maledicências” (Mateus, 15:19), e por isso é que

foi incisivo ao declarar: “aquele que olhar para uma mulher,

cobiçando-a, já no seu coração cometeu adultério com ela”.

O que ele quer e espera de nós, não é uma reforma exterior, ou

parcial, mas sim que nos reformemos radicalmente, mediante a

purificação da fonte de nossa vida moral, ou seja, de nosso

coração.

Quando, pois, nos aconselha a arrancar o olho e cortar a mão

que se tornem motivo de escândalo, quer, com essa linguagem

forte e expressiva, significar que é absolutamente necessário

destruirmos em nós mesmos tudo o que possa ser causa de

prevaricações e de sentimentos menos dignos, ainda que, para

isso, tenhamos de impor-nos os maiores sacrifícios.

É possível que alguém julgue isso tudo muito exagerado, e não

compreenda porque o “simples” olhar concupiscente deva

merecer tão severa condenação.

Que esse alguém imagine sua esposa, filha ou irmã sendo

cobiçada por certos indivíduos, cujo olhar parece despir a pessoa

em mira, e depois responda a si mesmo se a coisa continua a

parecer-lhe sem importância.
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