Livro O que é o Espiritismo – Capítulo II – A RESPEITO DOS ESPÍRITOS – Allan Kardec

A RESPEITO DOS ESPÍRITOS

7.
Os Espíritos não são, como vulgarmente se acredita, uma criação distinta das outras.
São as almas das pessoas que viveram na Terra ou em outros mundos, despojadas de seu envoltório corporal.

Quem admite a existência da alma, sobrevivendo ao corpo, igualmente admite a dos Espíritos.
Negar estes equivale a negar aquela.

8.
Comumente fazemos uma ideia falsa dos Espíritos.
Estes não são, como alguns pensam, seres imprecisos e indefinidos, nem chamas como as dos

fogos-fátuos, nem fantasmas como os dos contos fantásticos.

São seres semelhantes a nós mesmos e que, como nós, têm um corpo: mas fluídico e invisível em estado normal.

9.
Durante a vida, quando unida ao corpo, a alma tem um duplo envoltório.
Pesado, grosseiro e destrutível: o corpo.
O outro fluídico, leve e indestrutível: o perispírito.

10.
Três coisas essenciais contam-se, pois, no homem:

1ª)A alma ou o Espírito, princípio inteligente onde residem o pensamento, a vontade e o senso moral.

2a) O corpo, envoltório material que põe o Espírito em relação com o mundo exterior.

3ª) O perispírito, envoltório leve, imponderável, que serve de laço intermediário entre o Espírito e o corpo.

11.
0 envoltório exterior sucumbe quando está gasto e já não pode realizar suas funções: o Espírito dele se liberta como o fruto se despoja da casca, a árvore da cortiça e a serpente da pele.
Melhor dito: como nos livramos de uma veste imprestável.
A isto chamamos morte.

12.
A morte é a simples destruição do envoltório material que a alma abandona, como a mariposa abandona a crisálida.
A alma conserva, entretanto, seu corpo fluídico ou perispiritual.

13.
A morte do corpo liberta o Espírito do envoltório que o prendia à Terra, ocasionando-lhe sofrimentos.
Uma vez desembaraçado dessa carga, fica-lhe apenas o corpo etéreo, que lhe permite percorrer os espaços e franquear as distâncias com a rapidez do pensamento.

14.
A união da alma, do perispírito e do corpo material, constitui o homem.
Separados do corpo, a alma e o perispírito constituem o ser denominado Espírito.

OBSERVAÇÃO: A alma é, desse modo, um ser simples; O Espírito um ser duplo e o homem um ser tríplice.
Seria, pois, mais exato reservar a palavra alma para designar o princípio inteligente e a palavra Espírito para o ser semi-material formado por aquela e o corpo fluídico.
Como, porém, não se pode conceber o princípio inteligente destituído completamente de matéria, nem o perispírito sem estar animado pelo princípio inteligente, as palavras alma e Espírito são, no uso comum, indistintamente empregadas, originando a figura que consiste em tomar a parte pelo todo.
Assim é que se diz de uma cidade, que está povoada de tantas almas, de um povoado composto de tantos lares.
Filosoficamente, entretanto, é preciso estabelecer a distinção.

15.
Revestidos do corpo material, os Espíritos constituem a humanidade ou mundo corporal visível.
Despojados desse corpo constituem o mundo espiritual ou invisível, que povoa os espaços e em contato com o qual vivemos sem suspeitar, como acontece com o mundo dos infinitamente pequenos, que ignorávamos até a invenção do microscópio.

16.
Os Espíritos não são, pois, seres abstratos, vagos e indefinidos, mas concretos e circunscritos.
Para aparecerem aos olhos dos mortais, falta-lhes apenas que se tornem visíveis.
Segue-se, pois, que se num dado momento pudessem erguer a cortina que os oculta à nossa vista, constituiram uma verdadeira população ao nosso redor.

17.
Os Espíritos possuem todas as percepções que tinham na Terra, ainda mais requintadas, por isso que essas faculdades não estão embaraçadas pela matéria.
Experimentam sensações que nos são desconhecidas, vêem e ouvem coisas que nossos sentidos limitados não nos permitem ouvir nem ver.

Para eles não existem as trevas, salvo para aqueles cujo castigo consiste em viver nas sombras.
Todos os nossos pensamentos repercutem neles e os lêem como num livro aberto.
De modo que aquilo que podemos ocultar a alguém, enquanto vivo, não mais poderemos, desde que volte ao estado de Espírito.
(O Livro dos Espíritos, n.
237).

18.
Encontram-se os Espíritos por toda parte.
Estão entre nós, ao nosso lado, observando-nos incessantemente.
Mercê de sua contínua presença entre nós, os Espíritos tornam-se agentes de diversos fenómenos.
Desempenham um papel importante no mundo moral e, até certo ponto, no mundo físico.
Constituem, assim, uma das potências da natureza.

19.
Desde que se admite a sobrevivência da alma ou do Espírito, é racional admitir a dos afetos, sem os quais as almas de nossos parentes e amigos ser-nos-iam arrebatadas para sempre.

Como os Espíritos podem ir a toda parte, é igualmente racional admitir que os que nos amaram durante a vida terrena nos amem depois da morte, que vivam ao nosso lado, que conosco desejem comunicar-se e que, para o conseguir, empreguem os meios à sua disposição.
Isto é confirmado pela experiência.

Realmente, a experiência prova que os Espíritos conservam os afetos sérios que tinham na Terra, que se alegram de estar ao lado dos que amaram, principalmente quando atraídos pelo pensamento e pêlos sentimentos afetuosos que se conservam, ao passo que se mostram indiferentes para com aqueles que lhes votam indiferença.

20.
Ó Espiritismo tem por fim demonstrar e estudar as manifestações dos Espíritos, suas faculdades, sua situação feliz ou infeliz e o futuro que os aguarda.
Numa palavra: o conhecimento do mundo espiritual.
Comprovadas, essas manifestações conduzem à prova irrecusável da existência da alma, de sua sobrevivência ao corpo, de sua individualidade após a morte; numa palavra, à realidade da vida futura.
Tem ainda o objetivo da negação das doutrinas materialistas, não pelo raciocínio, mas por fatos.

21.
Uma ideia quase geral entre os que não conhecem o Espiritismo é a de crer que os Espíritos, pelo simples fato de estarem despojados da matéria, devam, tudo saber, devam estar de posse da suprema sabedoria.

É erro grave.
Sendo apenas as almas dos homens, não podem os Espíritos adquirir a perfeição, apenas por se haverem desprendido do envoltório terreno.
Só com o desprendimento sucessivo de suas imperfeições adquirem os conhecimentos que lhes faltam.
Tão ilógico seria admitir que o Espírito de um selvagem ou de um criminoso se converta imediatamente num sábio ou num virtuoso, quando contrário à justiça de Deus seria acreditar que permanecesse perpetuamente em sua inferioridade.

Assim como há homens de todos os graus de cultura e de perversidade, também há Espíritos.
Existem os que se tentam em ser levianos, travessos, mentirosos, burlões, hipócritas, perversos e vingativos, enquanto outros, ao contrário, possuem as mais elevadas virtudes e um grau de cultura desconhecido na Terra.

Esta diversidade de qualidades dos Espíritos é uma das questões mais dignas de consideração, pois explica a boa ou a má natureza das comunicações recebidas.
E nós devemos nos empenhar especialmente em estabelecer essa distinção.
(O Livro dos Espíritos, na 100, Escala Espírita

– O Livro dos Médiuns, cap.
24).

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