AUTOCONFIANÇA E AUTO-RENOVAÇÃO – Livro – Amor Imbativel Amor

O egoísmo é um remanescente cruel do primitivis­mo que predomina em a natureza humana. Responsá­vel por inumeráveis males, comanda os indivíduos, que vilipendia, os grupos, que entorpece moralmente, as sociedades, que submete a seu jugo.
Resultado dos impulsos animais, conduz a pesada carga do interesse imediatista em detrimento dos valo­res que enobrecem, quando partilhados com o grupo social.
Porque propõe o prazer asselvajado, propele o ser humano no rumo das conquistas exteriores em meca­nismos hediondos de perversidade, pouco se preocu­pando com os resultados nefastos que os seus lucros e triunfos oferecem à sociedade.
A meta do egoísta é o gozo pessoal, perturbador, insaciável, porque oculta a insegurança que se realiza através da posse, com o que pensa conquistar relevo e destacar-se no grupo, nunca imaginando a ocorrência terrível da solidão e do desprezo que passa a receber mesmo daqueles que o bajulam e o incensam.
O egoísta é o exemplo típico da autonegação, do descaso que tem pelo Si profundo, vitimando-se pelo alucinar das ansiedades insatisfeitas e pelo tormento de não conseguir ser amado.
A autoconfiança produz uma atitude contrária às posses externas e um trabalho de autoconquista, que pode favorecer a realidade do que se é, sem preocupa­ção com a aparência ou com a relevância social.
Descobrindo-se herdeiro de si mesmo, o indivíduo trabalha-se, a fim de crescer emocionalmente, amadu­recendo conceitos e reflexões, aspirações e programas, a cuja materialização se entrega.
Reconhece as próprias dificuldades e esforça-se para superá-las, evitando a autocompaixão anestesian­te quão deprimente do não entusiasmo, que sempre leva a estados enfermiços.
Identificando os valores que lhe são específicos, torna-se vulnerável à dor, sem se deixar vencer, à alegria, sem esquecer os deveres, e compreende que o pro­cesso da evolução é todo assinalado por vitórias como por derrotas, que passa a considerar como experiênci­as que contribuirão para futuros acertos.
O processo de fuga da realidade é sempre de efê­mera duração, porque os registros no inconsciente do indivíduo propelem-no vigorosamente para a frente, apesar da conjuntura imperiosa de manter os atavis­mos dos quais procede.
Ocorre que o ser humano está destinado à conquista da sua realidade divina, não se podendo impedir essa fatalidade.
Os transtornos de que se vê tomado são conse­qüências das ações vivenciadas, que se vão depurando à medida que novos atos são realizados, ensej ando con­quistas novas e libertadoras.
Nesse trajeto, o despertar da consciência impõe discernimento para que possa compreender quais as propostas relevantes para a saúde mental e emocional, conseqüentemente também a de natureza física, por ser esta o efeito daquelas outras formas. O corpo é sempre o invólucro que se submete aos impositivos do ser psí­quico que se é, experimentando os efeitos das irradia­ções do fulcro vital, que é o Espírito.
Toda e qualquer providência em favor do equi­líbrio há de provir dessa fonte inexaurível de ener­gias, encarregada de manter a estabilidade do con­junto. Quando algo ocorre, a disfunção é central, produzida por este ou aquele fator, que sempre tem a ver com as elucubrações e propósitos cultivados na forja mental.
Aí está o campo a conquistar, onde se encontram os conteúdos definidores da identidade do ser.
Conseguindo-se a disciplina da autopenetração mental, descobre-se a pouco e pouco o mundo de ten­dências, de desconfortos, de frustrações, de ansiedades e de conflitos em que se encontra mergulhado, reali­zando, mediante a auto-renovação, o trabalho de corri­gir o que se apresenta perturbador, aprimorando aqui­lo que pode ser alterado, superando o que seja factível de conseguir-se.
O ser humano é vida em expansão no rumo do in­finito. Espírito imortal, momentaneamente cercado de sombras e envolto em tormentos de insatisfação, pode canalizar todas as energias decorrentes dos instintos básicos para os grandes vôos da inteligência, superan­do os patamares mais primitivos da evolução com os olhos voltados para a realidade transcendente.
Emergindo do caos em cuja turbulência se agita, percebe a perenidade existente em tudo, não obstante as transformações incessantes e toma parte, emociona­do, no conjunto que pulsa e se engrandece diante dos seus olhos.
Esse ser, que parece insignificante e, não poucas vezes, faz-se mesquinho ante a grandeza do Cosmo, agiganta-se e descobre as infinitas possibilidades que lhe estão ao alcance, participando ativamente do con­certo geral, não mais pelos impulsos, senão consciente da grandeza nele existente, que aguarda somente o de­sabrochar.
A autoconfiança leva ao encontro de Deus no mun­do íntimo, à grandiosa finalidade para a qual existe, convidado à superação dos impedimentos transitórios que parecem asfixiá-lo.
Nesse admirável esforço surge o conhecimento de como se é e de como se encontra, descobrindo as próprias deficiências, mas igualmente as incontáveis pos­sibilidades de que desfruta.
O perceber dos limites e conflitos faculta uma me­lhor dimensão da fragilidade pessoal, propiciando to­mar-se de grande estima por si mesmo, sem qualquer inspiração narcisista, assim permitindo-se errar, porém preservando os objetivos de acertar, e toda vez que se compromete, ao invés de tombar no mecanismo auto-punitivo, busca superar o engano e conceder-se nova ocasião para se corrigir.
Não se detendo na autocompaixão perturbadora quão inútil, antes se motiva para crescer e alcançar os patamares psicológicos mais elevados, identificando-se com a Causalidade Única em tudo vibrando.
Esse empreendimento dá-se através da auto-re­novação, quando surge a necessidade de modificar os planos existenciais, face à descoberta do diferente sig­nificado e modo de viver.
Antes eram os anseios festivos e infantis das ale­grias superficiais, imaturas, agora são os saltos na es­cala de valores que se alteram mediante a conscientiza­ção do que se é e de tudo quanto significam em favor de si mesmo e do conjunto universal.
Já não se aspira pela mudança do mundo, pela transformação da sociedade, porque se descobriu que esse cometimento tem início em si mesmo, consideran­do-se uma célula importante do organismo pulsante que está presente em tudo. Constatando que, enquanto houver disfunção na partícula haverá desequilíbrio no conjunto, altera o movimento emocional da aspiração cultivada e se entrega ao ritmo eloqüente da vida em abundância, não mais da particularização dos interes­ses egóicos.
A autoconfiança resulta das conquistas contínuas que demonstram o valor de que se é portador, produ­zindo imensa alegria íntima, que se transforma em saú­de emocional, com a subseqüente superação dos con­flitos remanescentes das experiências passadas.
Esse processo inadiável deve ser iniciado no com­portamento mental através do cultivo de idéias liberta­doras, que fomentam esperança e motivam à luta, apre­sentando as inumeráveis formas de vitória sobre os ins­tintos predominantes, responsáveis pelos mergulhos no abismo da agressividade e da violência.
Da reflexão mental à ação tudo ocorre de maneira mais fácil, porqüanto se instalam automaticamente nos mecanismos psíquicos, daí transferindo-se para os há­bitos morais, as realizações físicas e sociais.
É nesse momento que se desenvolvem o senso de beleza e graça, o anseio pela conquista do imaterial, a aspiração pelo nobre e pelo bom.
As fronteiras existenciais se dilatam e o espírito voa com maior capacidade de conquistas transcendentais, de expressões abstratas que estão acima das formas e dos sentidos.
Inato nas pessoas, esse sentido de graça, de beleza, de transcendência somente é descoberto após a auto-realização, quando são extraídos do âmago e se expan­dem nos sentimentos que se adornam de vida e de luz.
Inexoravelmente o ser humano avança na busca da sua afirmação ante a vida e todos aqueles que o cer­cam.

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