DIVÓRCIO E SUPERPOPULAÇÃO – Casamento 5/5 (1)

FREITAS NOBRE – Vou usar um recurso, mas muito legítimo, porque eu vou fazer duas perguntas dadas à premência do tempo e a necessidade de faze-las. A primeira é a seguinte: o texto evangélico lembra que não deve o homem separar o que Deus uniu.
Argumenta-se de um lado, que o casamento, portanto, é indissolúvel, e de outro lado, que aquilo que Deus não uniu pode ser separado, porque não foi Deus que uniu.
Pergunto então como os mentores espirituais de Chico Xavier interpretariam o texto bíblico e, em segundo lugar, há uma preocupação, ainda hoje os nossos companheiros de rádio me pediram: “pergunta ao Chico Xavier, já que você vai ser um dos perguntadores, pergunta como é que a população deste planeta cresce desta maneira, se com o problema da reencarnação a fonte de vida para toda essa população teria origem exatamente onde?”
Essa pergunta dos companheiros de rádio é uma pergunta que anda, às vezes, nas preocupações gerais de muitas pessoas.
É evidente que muitos de nós aqui podemos ter o nosso entendimento a propósito do assunto, mas os nossos companheiros de rádio que hoje estão tão interessados nesta matéria de espírito, me pedem para formular a pergunta e aí ficam as duas interrogações, pedindo a você desculpas pelo expediente que usei para formular a pergunta.
CHICO XAVIER – A primeira questão apresentada pelo nosso digno amigo Sr. deputado federal, Dr. Freitas Nobre, envolve o problema do divórcio no Brasil.
Isso traz uma outra questão, que é a questão do desquite.
Sem nenhum desrespeito às nossas leis, com absoluta veneração aos nossos magistrados, que são zeladores da nossa dignidade como povo cristão, mas os nossos amigos espirituais consideram que o desquite facultado pelo artigo 316 do nosso Código Civil de algum modo, sem qualquer irreverência, pode ser comparado, com todo o respeito nosso à dignidade dos nossos governantes e dos nossos legisladores, o desquite no Brasil pode ser comparado ao presente de um carro de luxo, que é doado sem o motor. O carro não pode funcionar porque o motor está de um lado e a estrutura do veículo de outro.
No artigo número 323 do nosso Código Civil, existe a possibilidade da reconciliação dos cônjuges seja de que modo for, e a lei então aprova a reaproximação dos cônjuges que não puderam viver juntos.
Então é o trazimento do motor ao carro, que para que o carro venha a funcionar da mesma forma pela qual o mesmo foi considerado em dificuldade antes do reajuste.
Por isso mesmo, nós, que hoje vivemos em dimensões econômicas diferentes, em dimensões de intercâmbio diferentes, dimensões comerciais, dimensões diplomáticas muito diferentes daquelas que nos caracterizavam até 1916, quando o nosso Código era herdeiro de muitas das idiossincrasias do Código de Napoleão, e já diferente da lei 4.121, de 27 de agosto de 1962, considerada como sendo o estatuto da mulher casada.
Nós que vivemos hoje em dimensões tão grandes de compreensão humana, nós consideramos o divórcio como medida humana, medida legítima, porquanto dói ao nosso coração quando ouvimos, nas palavras públicas de nossos grandes magistrados a palavra, desculpem-me, a palavra concubina para designar senhoras distintíssimas, grandes mães de família que estão em segunda, terceira ou quarta união, com absoluto respeito ao regime monogâmico que impera em nossas relações.
Peçamos a Deus que as nossas autoridades possam ouvir os nossos sentimentos, mas não apressadamente, porque as leis não devem se alterar de um dia para outro, para que determinadas alas de criaturas ainda não matriculadas na escola da compreensão humana, da ternura humana, venham a abusar da magnanimidade de nossos preceitos legais.
Nós vamos esperar que dias melhores venham para a família brasileira, e que o divórcio possa ser consagrado, por nós todos, como medida humana, porque do ponto de vista espírita-cristão, muitos, talvez, afirmem: mas, e a dívida de outras reencarnações?
Muito bem, mas os nossos bancos fornecem moratórias, fornecem reformas, será que o banco da previdência divina está em penúria tal que não nos possa dar tempo para depois resgatarmos as nossas dívidas, com determinados companheiros ou companheiras, para que nós não venhamos a cair, muitas vezes, em delinquência, para salvaguardar os nossos interesses, a nossa integridade mental, mesmo?
O divórcio é uma medida humana, mas nós devemos considerar e isso digo na condição de espírita, nós os espíritas precisamos e sabemos respeitar a maioria católica da Nação brasileira.
Por isso mesmo, fazemos votos para que o Soberano Pontífice, que nós tratamos com a máxima veneração, e que suas eminências, os cardeais do Brasil, e suas excelências, os senhores arcebispos e bispos do Brasil possam também abençoar esses nossos ideais para que o divórcio venha tranquilizar tantos adultos e legalizar tanto os adultos e jovens que necessitam de semelhante medida para que a paz e o amor, na fala do nosso caro entrevistador, Dr. Durval Monteiro, para que a paz e o amor reinem dentro do lar pátrio, do território brasileiro, isto sem desconsiderar os princípios monogâmicos, os princípios de fidelidade que os cônjuges devem entre si, dentro das novas dimensões psicológicas em que os nossos grupos sociais são chamados a viver.
Nós temos dois fantasmas que precisamos abolir do campo de nossas vidas, que são a promiscuidade e a prostituição. Nós poderemos vencer a prostituição com a dignidade do trabalho porque, pelo trabalho, cada criatura se faz respeitada pelo rendimento de sua própria vida no grupo social e a promiscuidade pela orientação médica que vai liberar a nossa mente de aventuras suscetíveis de comprometer o futuro de nossos descendentes. Mas, o divórcio, medida humana, sem nenhum desrespeito à família brasileira, que é profundamente cristã, é medida humana, mas devemos esperar que os nossos magistrados reconsiderem os pontos de vista em andamento, e que processos novos de vivência possam inspirar essa lei de liberação, que é uma lei justa em favor da paz de nossos lares com emancipação para o homem e emancipação para a mulher, sem as ilusões e fantasias do amor possessivo, do amor egoístico de um lado ou de outro, porque cada um é senhor do seu próprio destino.
Autor : Francisco Cândido Xavier Livro: Chico Xavier – Dos Hippies aos Problemas do Mundo – Cap. 23 – Pág.: 95

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